A voz do Senhor

Eu sou o teu irmão

7º Domingo no Tempo Comum – 23 de fevereiro de 2025

Texto básico: Gênesis 45.3-15, 20

Textos complementares: Salmo 37.1-11, 39-40; Lucas 6.27-38; 1 Coríntios 15.35-38, 42-50

A união ideal entre os indivíduos e os povos sofre diferentes ataques visando a sua destruição. A prosperidade material pode, lembra o Salmo 37, provocar orgulho, opressão, ciúmes, inveja. Todas as inimizades podem ser resistidas se a pessoa elevar a intensidade do amor até o ponto de amar os próprios inimigos. 

Na 1ª Epístola aos Coríntios, a perfeita união acontecerá quando o corpo terreno com sua corrupção e fraqueza for, pela ressurreição, substituído pelo corpo espiritual cheio de glória e poder. 

Uma das mais belas páginas da Bíblia, que será aqui examinada, fala também da manutenção dos laços fraternos que, apesar de estarem aparentemente rompidos para sempre, permanecem, e cada vez mais fortes. 

Por isso ele será estudado usando os textos complementares como termos de comparação. O estudo seguirá nesta linha, acompanhando a luta do amor fraternal contra todas as ameaças sofridas e sua vitória final.

Vive ainda nosso pai? (Gênesis 45.1) 

A manutenção dos laços familiares não depende apenas da ligação genética. A tradição cultural dentro da qual viveu José possuía elementos que marcavam a diferença entre o clã familiar e os grupos humanos. A hierarquia patriarcal já estava na terceira geração. A lembrança de Abrão Isaque e Jacó permaneceria para garantir a origem daquele povo, de geração em geração. 

É verdade que a adoção da poligamia provocava uma quebra na unidade fraternal, já que os filhos da mesma mãe tendiam a se sentirem mais próximos do que dos outros irmãos só por parte de pai. 

Contudo, estas diferenças internas deveriam ser niveladas pela crença nos descendentes de Abraão, em um Deus que, como Pai, conduzia e protegia o seu povo. 

Porém, os laços foram violentamente quebrados. A declaração de José é forte: “Vocês me venderam para o Egito”. 

É uma atitude criminosa pior do que a morte, porque a pessoa injustiçada sofre a dor profunda da ingratidão e da maldade humana. É como se a arrancassem de seus laços de família e a lançassem no meio de uma comunidade estranha e hostil.  

Mas, apesar de tanto tempo longe da comunidade familiar, José não se esqueceu da mensagem da religião de seu povo que, na linguagem do Salmo 37o aconselhava: “Agrada-te do Senhor e ele satisfará os desejos de seu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e ele tudo fará”.

E nesta confiança, obedeceu aos ensinamentos divinos que, também no Salmo 37, orientam a não se indignar por causa dos malfeitores, a não se irritar por causa das pessoas que prosperam em seus caminhos, e recebeu com antecedência de séculos os ensinamentos daquele que radicalizou o assunto dizendo: “Se alguém te ferir uma face, oferece também a outra”.  

E, com voz mais forte, ainda declara: “Não adiantam todas as tentativas de apagar os laços que nos unem. eu continuo sendo José, o irmão de vocês. Nosso pai ainda está vivo? Mas se ele já faleceu, pela sua memória, continuo da mesma forma sendo o irmão de vocês”.

Acheguem-se a mim (Gênesis 45.4-6) 

Sejam quais forem as medidas que se quer usar, era infinitamente grande a distância que separava José de seus irmãos. No tempo e no espaço, estão separados há muitos anos e a quilômetros. As possibilidades de um reencontro eram também remotas. 

Os irmãos não tinham a menor ideia de onde se encontraria agora o irmão que venderam para comerciantes que o revenderiam não se sabe onde e para quem. 

José, quanto mais o tempo passava, mais apagava a esperança de um dia saber de seus irmãos e de seu pai que já, pela idade, caminhava para a morte. 

A distância maior que os colocava em estremos opostos, porém, era a condição social e financeira dele em relação a seus irmãos. 

Devido à terrível seca que assolava a região, a família de José lá em Canaã caminhava para a fome que a levaria à morte. José, orientado pelo Pai que continuou acompanhando e guardando a sua vida em todas as circunstâncias, e cujas pegadas ele nunca abandonou, por mais sinuosas que foram as veredas que trilhou, vê-se agora na situação de “pai de Faraó” para usar sua própria linguagem. 

Mas é exatamente esta distância, a mais extrema, que como arco retesado para trás lança a família novamente na direção daquele que ela expulsara de seu convívio. 

Mas toda energia e toda a determinação que usou no enfrentamento dos grandes gigantes que teve de vencer até aquele momento de sua vida se afloram e ele insiste com autoridade irrecusável: “Cheguem-se a mim.”

José chorou (Gênesis 45.7-11, 20) 

A reconciliação não se sela pela assinatura das partes que se aproximam, pelos juramentos extravasados nas mais estudadas palavras, na troca de presentes ou qualquer outra demonstração exterior. 

A reconciliação é selada por um longo e caloroso abraço regado por lágrimas quentes e copiosas. 

Foi isto que fez José ao lançar-se ao pescoço primeiro de seu irmão mais íntimo, Benjamim, repetindo o gesto com todos os demais irmãos. 

Os egípcios que, de longe, ouviram o clamor do seu grande chefe, certamente não poderiam entender o significado da demonstração de tanta dor. Pois somente quem pudesse penetrar no coração de quem chora em semelhantes circunstâncias pode entender o sentido de tão profundos sentimentos. 

São lagrimas de ressentimentos e de tristeza pela enorme ingratidão recebida. E estas lágrimas encaminham para o tipo seguinte constatado, que poderiam ser lágrimas de ódio e vingança, mas, no coração de quem foi bem preparado para momentos como aquele, encontram forças para tudo resistir e para transforma-las em lágrimas de perdão, deixando para Deus fazer sobressair a sua justiça coma a luz e o seu direito como sol do meio-dia. 

Acima de tudo, são lágrimas que conduzem em si mesmas o verdadeiro amor, que tudo supera, que apaga a diferença entre irmão e traidor, entre amigo e inimigo, entre coragem e compreensão.  

É o poder das lágrimas de José que confirma a promessa lembrada no Salmo 37 de que o povo de Deus habitará na terra a ele prometida.  A complexidade das lágrimas do grande sonhador só é superada pelo pranto derramado por aquele que veio socorrer os filhos de seu Pai, e que foi por eles rejeitado e morto. 

Rev. Lysias Oliveira dos Santos, ministro jubilado da IPI do Brasil

 

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