“Contudo, Jesus insistiu: Alguém me tocou, porque senti que de mim saiu poder” (Lc 8.46).
Enquanto Jesus caminhava, as multidões o apertavam. Uma mulher, sofrendo de uma hemorragia, veio por traz dele e tocou suas vestes. Foi imediatamente curada. Vendo que já não podia ocultar-se, prostrou-se relatando o ocorrido.
É interessante notar que, neste relado, todos estavam perto da bênção e somente ela a recebeu. Poderíamos fazer alusão ao texto de Mateus 22.14: “Muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”, ainda que o contexto seja completamente diferente.
Temos certeza que todos, indistintamente, têm uma razão comum que é o sofrimento e o desespero da busca de alguma solução, o que nos leva às opiniões de Heine – cínico – que não sabe resolver se este mundo é um hospital ou um hospício; de Schopenhauer – pessimista – que garante que é preferível a inexistência à existência; ou Sêneca defendendo o suicídio, louvando a sabedoria da natureza que só abriu uma entrada para a vida, e muitas saídas: “És feliz? Vive. És infeliz? Volta para onde vieste”. E, queiramos ou não, o próprio Salomão estabeleceu: “Vaidade de vaidades, tudo é vaidade” (Ec 1.1).
Podemos entender este episódio sob alguns aspectos:
Pessoas que estão sempre perto, mas nunca decidem
“Nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus” (Mt 7.21).
“Agripa se dirigiu a Paulo e disse: Por pouco não me persuades a ser cristão! Paulo respondeu: Assim Deus me permitisse que, por pouco ou por muito, não apenas tu, ó Rei, porém todos os que hoje me ouvem se tornassem tais qual eu, exceto estas cadeias” (At 26.28-29).
A mulher tomou a iniciativa mesmo conhecendo os riscos que corria. Abriu mão dos dogmas da religião e não teve medo de contrariar os homens, contrariando também o que especificava a lei registrada em Levítico 15.19: “A mulher, quando tiver o fluxo de sangue, se este for o fluxo costumado do seu corpo, estará sete dias na sua menstruação, e qualquer que a tocar será imundo até a tarde”.
Por isso é que Jesus, perguntando quem o havia tocado, declarou: “Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz”. Realmente ela fez ali a sua profissão de fé.
Teve consciência de que era o seu último recurso
Segundo o relato bíblico ela havia utilizado tudo o que era possível para a sua época e nenhuma melhora. Só piorava.
Para muitas pessoas Deus só deve ser utilizado como um último recurso, por exemplo: diante de uma doença, procura-se o médico, o hospital, etc. Caso a pessoa não melhore, aí é hora de buscar a Deus.
Entre os gregos e romanos, quando se imaginava o fim da esperança, havia a recomendação: “Lança-a aos cuidados dos deuses e reza”. Shakespeare relata, diante de uma tempestade, com os marinheiros julgando tudo perdido: “Tudo está perdido? Às orações, às orações!
Creu no Salvador
Com sua corajosa atitude, expondo-se diante de toda aquela multidão, antecipou, de forma definitiva, o que o apóstolo Pedro disse diante das autoridades: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12).
Além disso, ela confirmou as palavras de Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida e ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6) e complementou: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós, outros” (Jo 14.18)
Rev. Gerson Moraes de Araújo, capelão do Hospital Evangélico de Londrina, PR







