Gilbert Chesterton disse: “O mundo moderno está cheio das velhas virtudes cristãs enlouquecidas. As virtudes enlouqueceram porque foram isoladas umas das outras e estão vagando sozinhas. Assim, alguns cientistas se preocupam com a verdade; e sua verdade é impiedosa. Assim, alguns humanistas só se importam com a piedade; e sua piedade é muitas vezes falsa. Quando as virtudes são isoladas umas das outras, quando não são temperadas umas com as outras, seu gosto e sua experiência podem ser dramaticamente diferentes”.
Enquanto refletia sobre qual metáfora de fruta usar para este sermão, pensei no açaí. Os nativos do Norte do Brasil muitas vezes torcem o nariz quando veem o que o resto do Brasil faz com ela.
Para os nativos, o açaí deve ser comido como acompanhamento. O resto do Brasil, no entanto, mistura-o com outras frutas e adoça-o com um xarope de guaraná.
Muitos dos que afirmam amar o açaí provavelmente não gostariam muito dele em seu estado bruto.
Vamos tratar da gentileza como fruto do Espírito Santo. De todos os diferentes segmentos do fruto do Espírito, a bondade é talvez um daqueles que são muito incompreendidos e deturpados.
Gentileza é o slogan vazio de nossa cultura. A autoajuda prega que você tem que ser gentil consigo mesmo. Em várias ocasiões em que a “tolerância” é apregoada o que se quer dizer é, em verdade, gentileza.
A palavra usada pelo apóstolo Paulo significa algo que é agradável e que contrasta com seu oposto: grosseria. E parece que a grosseria está se tornando cada vez mais difundida em nossa cultura.
Pior, parece haver alguma confusão entre força e grosseria. O cara “rude” e a garota “durona” que não leva desaforo pra casa são geralmente vistoss como fortes na sociedade moderna.
Isso significa que, se você é “brutalmente honesto”, na verdade, você não é brutalmente honesto; você é apenas honestamente bruto, desagradável. As pessoas não se afastam de você porque não conseguem lidar com a verdade; elas simplesmente não conseguem lidar com você.
Esta é a verdade das Escrituras: “Há um cujas palavras precipitadas são como golpes de espada, mas a língua dos sábios traz cura” (Pv 12.18) “A resposta branda desvia a ira, mas a palavra dura suscita a ira” (Pv 15.1): “A língua mansa é árvore de vida, mas a perversidade nela quebranta o espírito” (Pv 15.4). A gentileza, portanto, é um elemento-chave do fruto do Espírito, pois é uma manifestação de amor.
É fácil entender o motivo de alguns buscarem essa brutalidade-disfarçada-de-honestidade. A ideia mundana de gentileza não é doce, mas sacarina.
A Escritura que elogia a bondade também nos adverte contra a bajulação, que é uma violação dos Dez Mandamentos, equivalente à mentira.
A lisonja é como uma rede para o pé (Pv 29.5) e como uma armadilha para prender e fazer cair (Pv 26.28). À luz da Bíblia, há um forte contraste entre gentileza e bajulação.
A bondade é a verdade temperada com amor, assim como minha maneira favorita de comer açaí – misturado com um pouco de xarope doce de guaraná. Da mesma forma que o açaí tem valor por si só, o mesmo acontece com a verdade que, combinada com o amor, é bondade genuína e bíblica.
A bondade, meus amigos, é algo para cristãos espiritualmente maduros (Ef 4.14-15) Apenas cristãos bebês ou adolescentes se contentam em falar a verdade sem qualquer consideração sobre como ela é dita. Paulo estabelece um padrão interessante para a maturidade cristã: aptidão para receber instrução ainda que esta seja dada de forma rude, e uma disposição para ensinar sempre de forma branda (Pv 27.6).
A verdadeira gentileza cristã está sempre enraizada na verdade. Ela visa edificar os outros, aproximando-os de Cristo (Tg 5.19,20). A lisonja mundana não tem consideração pelo que é verdadeiro. Visa apenas não desagradar seu ouvinte, pois visa obter seu favor às custas de sua própria alma.
A gentileza cristã está enraizada na verdade, mas também é temperada com amor. O cristão gentil se esforça para não fazer de suas palavras uma pedra de tropeço (Rm 14.13, Mt 12.36; 18.7)
A gentileza é uma bela parte da vida cristã. Cada um de nós tem o dever de se aplicar no estudo da Escritura e na oração, para que encontremos a maneira mais amorosa de transmitir a verdade com integridade.
Olhemos para trás, para conversas difíceis que tivemos no passado. Será que tivemos a intenção de aproximar os outros de Deus? Nossas palavras foram temperadas com amor? Como serão nossas conversas se praticarmos a verdadeira bondade cristã?
Filipe Nobre Queiroz, membro da 1ª IPI de Natal, RN







