Nesta edição, queremos prestar uma homenagem especial a todas as mulheres da igreja, reconhecendo sua dedicação, força e liderança nos mais diversos ministérios.
Em um momento significativo para a IPI do Brasil, convidamos a Rev. Shirley Proença e a Presb. Eleni Rangel para compartilhar suas reflexões sobre o futuro do ministério feminino e o papel essencial das mulheres na igreja.
Ambas são responsáveis pela coluna Vozes Femininas de O Estandarte e participaram do Núcleo de Apoio ao Ministério Feminino (NAMFE), coordenado pela Rev. Priscila Kume, iniciativa da Secretaria Pastoral que tem como missão acolher, apoiar e fortalecer pastoras e presbíteras da IPI do Brasil. Nesta entrevista, a Rev. Shirley e Presb. Eleni falam sobre os desafios e avanços do ministério feminino. Que esta entrevista inspire e encoraje todas as mulheres que servem à igreja, reforçando a certeza de que seu papel é essencial para a edificação do Reino.
O que vocês esperam para o futuro do ministério feminino dentro da IPI do Brasil?
Esperamos que as pastoras possam realizar plenamente o ministério para o qual foram chamadas, em parceria com os pastores e toda a igreja.
Há garantia constitucional para a ordenação feminina, mas presbíteras e, principalmente, pastoras têm encontrado muitas dificuldades para exercer seu ministério, pois ainda há preconceito e discriminação. Isso se reflete na distribuição dos campos de atuação, na côngrua pastoral, na representatividade nos concílios e na falta de oportunidades para o exercício pastoral nas comunidades locais.
Nossa oração é para que, após 25 anos da ordenação feminina, haja mais equidade, pois o mesmo Deus que vocaciona homens também vocaciona mulheres que respondem ao chamado divino.
Como garantir que o ministério feminino seja um espaço acolhedor e inclusivo para mulheres de diferentes idades e contextos sociais?
Acreditamos que seja essencial ouvir mais as mulheres que enfrentam diversos tipos de dificuldades — materiais, emocionais, relacionais e institucionais —, pois elas podem relatar com precisão e envolvimento os obstáculos que vivenciam no ministério.
Além de ouvi-las, é necessário tomar ações concretas, como promover discussões sobre o tema, incentivar mulheres a expressarem as restrições que enfrentam na aceitação do ministério ordenado de outras mulheres, e criar grupos de estudo e oração em diferentes regiões que deem voz às pastoras e presbíteras trabalhem pelo reconhecimento de seus dons para a edificação de toda a igreja.
Quais temas bíblicos são essenciais para fortalecer a fé e a identidade das mulheres no ministério?
O amor pelo chamado de Deus é fundamental, pois Ele é o Senhor da vida e escolhe pessoas para atuarem em seu Reino, a quem devem ouvir e obedecer.
Alicerçada no amor, vem a esperança de que as questões culturais — ainda que presentes e, em alguns casos, profundamente arraigadas — são construídas e reconstruídas, e não devem impedir o cumprimento da missão recebida de Deus.
A igualdade no exercício de todos os ministérios também é essencial: desempenhá-los de maneiras diferentes não significa que sejam hierarquicamente distintos. Todos, inclusive o ministério ordenado, devem ser exercidos na perspectiva do serviço e da solidariedade.
Nem todas as mulheres foram chamadas para serem presbíteras e pastoras, mas muitas desanimam por se sentirem sozinhas, não acolhidas e até marginalizadas — não por falta de preparo, oração ou ação, mas simplesmente por serem mulheres.
Vocês percebem uma mudança na aceitação de lideranças femininas na igreja nos últimos anos?
Podemos falar de uma mudança quase imperceptível. Muitas mulheres foram ordenadas ao ministério pastoral nos últimos 25 anos, e cerca de 100 estão atualmente em atividade ou em disponibilidade.
No entanto, muitas renunciaram ao ministério pastoral. Sabemos o que elas passaram, o que sentiram ou por que se cansaram diante das portas fechadas em diferentes instâncias da igreja — local, presbiterial, sinodal ou nacional? Não temos essas respostas.
Sem escuta, as mudanças não serão significativas. Ainda que existam garantias legais, a realidade muitas vezes leva ao desânimo e à desistência.
Como a igreja pode incentivar mais mulheres a assumirem papéis de liderança?
De modo geral, ao observarmos nossas igrejas locais, percebemos a participação ativa das mulheres em todas as instâncias e atividades ministeriais. Elas atuam como professoras de Escola Dominical, musicistas, diaconisas, administradoras, mantenedoras e líderes de diferentes grupos — oração, evangelismo, ação social, entre outros.
Essas atividades são fundamentais para o bom funcionamento da comunidade e para o cumprimento do mandato do Senhor Jesus a seus discípulos.
A igreja precisa dar visibilidade a esse trabalho e valorizá-lo, atribuindo-lhe a mesma importância que confere às funções exercidas pelos homens. Isso permitirá que as mulheres tenham sua autoridade e liderança devidamente reconhecidas.
Que conselhos vocês dariam para mulheres que desejam se envolver mais no ministério, mas não sabem por onde começar?
Comecem pela oração, pela disposição ao serviço e pelo preparo acadêmico. É essencial ter a convicção de que o ministério ordenado é uma vocação dada por Deus e confirmada pelo Espírito Santo, e que a igreja deve cumprir a vontade do Senhor, não a sua própria, que muitas vezes se fundamenta no exclusivismo.
Não desistam de responder afirmativamente ao chamado, mesmo que a caminhada seja árdua. Quando as circunstâncias forem desfavoráveis, lembrem-se da promessa bíblica:
“A tribulação produz a paciência, a paciência produz a experiência, e a experiência produz a esperança. E a esperança não desaponta, porque o amor de Deus foi derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Romanos 5.3-5).
