Uma Igreja que fala e escuta

A prática do Governo Presbiteriano pode parecer complexa à primeira vista, mas para quem a vive, faz sentido

A IPI do Brasil, que completou 122 anos no último mês, marca o Dia do Presbiterianismo — celebrado em 12 de agosto — revendo seus princípios fundantes e buscando ressignificá-los no século 21.

Tempero secreto

“A forma pode mudar, mas a essência não muda”, resume o Rev. Sérgio Gini, presidente da Assembleia Geral da IPI do Brasil. “Essa essência é o nosso ‘tempero secreto’: fidelidade às Escrituras, unidade na diversidade, conciliaridade, justiça social e anúncio do Evangelho”. O Rev. Gini fala com a segurança de quem cresceu em comunidades fundadas por sua própria família no interior paulista e paranaense. Seus antepassados participaram da organização da Igreja Presbiteriana do Rio Novo, em 1873, na atual cidade de Avaré, SP, e estiveram presentes na fundação da IPI do Brasil.

Para ele, a renovação é urgente — mas precisa acontecer sem perder a fidelidade às Escrituras, o espírito missionário e a pluralidade que sustentam a tradição da igreja. 

A IPI do Brasil caminha pelos princípios do governo presbiteriano (com conselhos e assembleias). Mas o que significam esses princípios em 2025?

Fé com voz e voto

Na contramão das estruturas hierárquicas predominantes no cenário evangélico brasileiro, a IPI do Brasil enfatiza a corresponsabilidade. Assembleias elegem representantes, conselhos deliberam coletivamente e os membros são convocados a participar ativamente das decisões. Essa cultura institucional molda experiências de fé mais engajadas.

Eduardo Magalhães, presbítero em disponibilidade da 4ª IPI de Bauru, SP, encontrou na IPI do Brasil o espaço ideal para desenvolver seus dons. “O que mais me chama a atenção é a forma séria como é feito o estudo da Palavra, além da contextualização com a realidade brasileira”, afirma. Ele cresceu na denominação após um convite da mãe, num evento de Dia das Mães, e ali encontrou liberdade para atuar na música, no ensino e na administração.

Eduardo valoriza especialmente o regime representativo da igreja. “A Assembleia vota em seus líderes, que depois deliberam no conselho. É um modelo bastante participativo. As reivindicações são ouvidas e discutidas”, explica. “Ser presbiteriano independente é fazer parte de uma igreja autenticamente brasileira, conectada com as questões da sociedade e do Reino de Deus”, sintetiza.

Uma igreja que escuta

Essa capacidade de escuta e envolvimento também marcou a trajetória de Luana Marcelino, líder do ministério de mulheres “Lírio dos Vales”, na cidade de José Bonifácio, SP. Convertida aos 23 anos e ligada à IPI do Brasil após se casar com um pastor da denominação, ela se surpreendeu com o modelo de governo da igreja: “Nunca havia visto algo assim. Levei um tempo para entender, mas gostei muito. A gente participa, opina, se compromete”. Sua experiência reflete uma característica marcante da IPI do Brasil: o engajamento leigo.

Rev. Sérgio Gini

A prática do governo presbiteriano pode parecer complexa à primeira vista, mas, para quem a vive, ela faz sentido. Luana destaca ainda que a escuta institucional não é apenas formal, mas afeta o cotidiano da fé. “Me sinto parte, não apenas uma seguidora de decisões prontas.”

Essa abertura também se expressa na forma como a IPI do Brasil lida com a diversidade entre igrejas locais. Embora o nome remeta à autonomia, a denominação se organiza como uma confederação: igrejas se unem, mantendo unidade doutrinária sem engessamento litúrgico ou organizacional.

Para muitos, o desafio não é abandonar a tradição, mas traduzir seus valores para novas linguagens e contextos. “A tradição da IPI me mostrou que é possível viver a missão com responsabilidade, com base bíblica e com amor”, diz Luana. Para o presidente Sérgio Gini, nossa tradição precisa ser reinterpretada: “É um dos grandes desafios para uma denominação que possui muitas igrejas centenárias… tudo começa com o discipulado. Sem ele, nossos esforços serão desperdiçados.”

Nesse processo de reinterpretação do “ser presbiteriano independente”, a juventude não é apenas destinatária, mas protagonista. Projetos de missão urbana, iniciativas de comunicação digital e novas formas de liturgia têm surgido como sinais de uma igreja em movimento — aberta à escuta e às mudanças, mas ainda enraizada em sua confissão de fé.

Presb. Eduardo Magalhães
Luana e o esposo, Rev. Eduardo

A IPI do Brasil, aos 122 anos, presente em todos os estados brasileiros (exceto Amapá), busca atualizar sua linguagem sem diluir seus compromissos centrais de “Fidelidade às Escrituras, unidade na diversidade, o testemunho de ser uma igreja conciliar, livre de ‘donos’ e de grupos ideológicos; uma Igreja que prima pela educação, pela Teologia fundamentada e prática; uma Igreja igualitária e justa; uma Igreja que denuncia os males sociais e os males do pecado; uma Igreja que anuncia o único meio de salvação para todos os seres humanos: Jesus”, afirma Gini.

Ser presbiteriano independente é mais do que pertencer a uma denominação. É viver uma fé comunitária, crítica, participativa — e conectada com os desafios do Brasil.

Ao celebrar o Dia do Presbiterianismo, a IPI do Brasil reafirma sua vocação: caminhar junto com o povo, proclamar Cristo como esperança e renovar sua missão com coragem. Na prática, isso significa aceitar o desafio de ser uma igreja que continua reformada, mas aberta. Independente, mas conectada. Tradicional, mas viva. Sempre fiel à missão que a move há mais de um século: viver e anunciar o Evangelho de Cristo com liberdade e responsabilidade.

SAIBA MAIS
Leia a entrevista com o Rev Sérgio Gini: Clique aqui.

Foto de Sheila Amorim

Sheila Amorim

Jornalista e diagramadora de O Estandarte, membro da IPI de Cidade Patriarca, São Paulo, SP

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