Somos corpo… Mas e as crianças?

Um dos textos que mais me encantava na infância e na adolescência era 1 Coríntios 12.12. A figura do corpo fazia tanto sentido para mim, ainda pequena… Era reconfortante compreender que cada um tinha uma função e que, mesmo sendo diferentes, juntos, formávamos um só corpo.

QUANDO AS CRIANÇAS SERVEM, ELAS TESTIFICAM QUE SÃO DISCÍPULAS HOJE, E NÃO APENAS NO FUTURO

Um dos textos que mais me encantava na infância e na adolescência era 1 Coríntios 12.12. A figura do corpo fazia tanto sentido para mim, ainda pequena… Era reconfortante compreender que cada um tinha uma função e que, mesmo sendo diferentes, juntos, formávamos um só corpo. Meu entendimento da vida e da Palavra ainda era limitado, mas aquela mensagem transbordava em meu coração quando cantávamos “Corpo e Família”, de Daniel Souza: “Somos corpo e, assim bem ajustados, totalmente ligados, unidos em amor…”. Eu me emocionava e, com afeto, ainda lembro dos momentos em que a cantava com todo o meu fôlego.

Com o passar dos anos, porém, fui percebendo o quanto esse ideal era também um desafio. A mesma canção que antes me emocionava passou a me incomodar (“uma família sem qualquer falsidade…”) porque aquilo que cantávamos nem sempre parecia verdade. Ao refletir novamente sobre o tema desta edição “Servindo à Igreja que serve” para esta coluna, compreendi que Paulo não apenas nos oferece uma ilustração, mas também nos aponta um chamado de Deus, assim como cantamos em outra música daquele mesmo tempo: “Pois a vontade de Deus, revelada em Jesus, é que sejamos um” (“Eu quero ser uma bênção para você”, de Daniel Souza).

E o que isso tem a ver com crianças?

Tudo. Porque as crianças também fazem parte do corpo. E, como tais, precisam ser integradas à comunidade, servindo com seus dons e talentos hoje, enquanto ainda são crianças. Incluir as crianças no serviço da igreja não é apenas dar “tarefas” para ocupá-las, mas oferecer-lhes um caminho de pertencimento. Quando uma criança serve, ela não está apenas ajudando, está crescendo em fé, construindo vínculos e aprendendo a linguagem do amor na prática.

É no serviço que a criança descobre que também pode contribuir, que é importante e que a comunidade confia nela. Isso fortalece sua autoestima, sua relação com Deus e com a igreja. Quando não damos esse espaço, corremos o risco de cultivar uma fé teórica, onde a criança apenas ouve sobre o Reino, mas não o vive.

O que impede as crianças da sua igreja de servir?

Há tantas formas simples e significativas de envolvê-las! Elas podem acolher as pessoas que chegam à comunidade, entregar um boletim, uma tag. Podem ajudar na organização da Escola Dominical, distribuir materiais para as crianças menores ou até mesmo auxiliar os mais novos (com supervisão, claro). Pode participar de visitas com adultos e orar, se assim desejar, de forma espontânea nos cultos. Se olhar com cuidado e atenção, certamente, você encontrará muitas possibilidades de envolver as crianças na dinâmica de serviço em sua comunidade.

O serviço das crianças não precisa (e nem deve) ser uma versão adulta e sobrecarregada do voluntariado. Ele precisa surgir de forma orgânica, da mesma forma como Paulo chama o corpo de Cristo: uma unidade viva, interdependente, ajustada por Deus. O trabalho da criança não é menor em relação ao do adulto. Ela tem o seu papel na comunidade e sua integração é uma responsabilidade da igreja na caminhada de conduzir crianças no caminho.

Essa jornada se torna mais leve quando compreendemos o sonho da Igreja — com “I” maiúsculo, como afirmado na Confissão de Westminster:

“A Igreja católica ou universal, que é invisível, consiste do número total dos eleitos, que já foram, são ou ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo, seu cabeça. (…) A Igreja visível é também o corpo de Cristo e deve ser composta de todos os que, em todo o mundo, professam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos.” 

(Confissão de Fé de Westminster, cap. XXV, 1–2)

Que lembremos que não há divisões entre quem serve:

“A fim de que não haja divisão no corpo, mas sim que todos os membros cuidem igualmente uns dos outros” (1 Co 12.25).

Integrar as crianças ao serviço da Igreja — com “I” maiúsculo — não é apenas uma questão organizacional, mas um ato de fidelidade ao Evangelho que reconhece todos os membros do corpo de Cristo como participantes ativos da missão. Quando damos às crianças a oportunidade de servir, confirmamos, na prática, aquilo que já cremos com nossas palavras: elas são parte do Corpo, discípulas no hoje, e não apenas no futuro.

Talvez os serviços das crianças pareçam pequenos aos nossos olhos: uma oração simples, um gesto de ajuda, um sorriso na recepção. Mas, aos olhos de Deus, são manifestações sinceras de fé e pertencimento. 

Que possamos ser igrejas que abrem caminhos para as crianças.

Foto de Rev. Tabta Rosa de Oliveira

Rev. Tabta Rosa de Oliveira

Pastora da IPI Morumbi, Sorocaba, SP, e coordenadora Nacional de Crianças da IPI do Brasil

Compartilhe este conteúdo. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Conteúdo Geral

Notícias Relacionadas

Categorias

Seções

Artigos por Edições

Artigos mais populares

Não Existem mais Posts para Exibir
Política de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos fornecer a melhor experiência possível para o usuário. As informações dos cookies são armazenadas no seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajuda a nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.