Santidade como resposta à graça de Deus

Dia desses, quando eu estava levando meu filho à escola, ele me perguntou o que é ser santo. Eu disse que a resposta era longa, mas que iria tentar...

Como trilhar uma jornada cristã livre das tentações de performance e do legalismo?

Dia desses, quando eu estava levando meu filho à escola, ele me perguntou o que é ser santo. Eu disse que a resposta era longa, mas que iria tentar dar uma explicação curta. 

Ao tentar elaborar as palavras, fui percebendo que não seria tão fácil explicar o conceito sem ter que, antes, discorrer outros princípios. 

Falei sobre “ser separado” por Deus a fim de expressar o caráter perfeito dele. Abordei ainda sobre a realidade de que não há uma santidade mágica, feita da noite para o dia. Estamos “em obras” em direção ao destino glorioso que Cristo reservou para nós.

 

Santidade tragicômica

Numa sociedade ávida por performance, há o risco de buscarmos uma santidade apenas externa (como, inclusive, Jesus condenou). 

Sim, essa é a maior tentação de quem busca a santidade: entregar-se à tentação das aparências. Lembra dos tais “sepulcros caiados” que Jesus criticou? Em suma, legalismo. 

“É mais uma conformação e busca de aprovação humana do que uma transformação e renovação interiores”, exorta o Rev. Valdinei Ferreira.

Essa postura, além de perigosa, é ridícula. “Imagino uma cena tragicômica: eu falando com Deus, com cara de contrito, com palavras aparentemente profundas e de consagração a Ele e de rabicho de olho (disfarçado pela minha contrição de olhos enrugados quase fechados de tanta devoção) tentando perceber quantos presentes estão me observando e me admirando por tamanha santidade”, discorre o Rev. Jony de Almeida, da Igreja Presbiteriana de Viçosa, MG. Além de ridículo, também é ofensivo e um grande desperdício, completa ele.

“Santidade não é fruto da performance humana, do nosso esforço, por mais determinado que seja. Santidade só é possível quando em nós habita aquele que é santo. Santidade é de cima para dentro e de dentro para fora”, ressalta o Rev. Rodolfo Montosa, pastor titular da 1ª IPI de Londrina, PR.

 

Santidade: a principal diferença teológica

Santidade é um assunto prático, que se sustenta em bases teológicas. Se Deus é a fonte da santidade, é sobre Ele que precisamos falar para então aprendermos a viver uma vida como consequência natural da relação com Cristo. 

Pedro Paulo Sanches, pastor titular da Igreja Presbiteriana de Viçosa, explica que “o calvinismo oferece clareza sobre essa questão ao afirmar que a salvação é uma obra ‘monergista’ — uma ação exclusiva de Deus que traz vida ao pecador morto em seus delitos e pecados (Efésios 2.1-5). Contudo, quando falamos de santificação, o cenário muda. Aqui, encontramos uma obra ‘sinergista’, onde o crente, já unido a Cristo, coopera com a graça recebida. É uma caminhada que exige esforço pessoal, mas que se fundamenta totalmente na força que Deus concede”. 

“O chamado irresistível e bondoso é de Jesus (Deus soberano que chama, convoca). Mas a responsabilidade de ouvir e seguir é dada a mim. Meu é o envolvimento, a participação,” destaca Almeida.

 

Como começar a jornada da santidade?

“De maneira simples e prática, a regra de ouro para você crescer em santidade é estar andando junto com quem tem andado em santidade. Essa cadeia de influência para a santidade foi inaugurada por Jesus com seus discípulos e seguiu até nossos dias”, ensina Montosa. 

“Descobri a espiritualidade clássica do silêncio, da solitude, da escuta da Palavra e da resposta que ora e vive o que ouviu há duas décadas. De lá para cá, procuro exercitar esta vida devocional rica e, graças ao bom Deus, tenho sido transformado (mesmo que bem lentamente, pois sou difícil) de dentro para fora por essa sabedoria espiritual”, relata Almeida.

Para Valdinei, devemos colocar o importante acima do urgente. “Gosto do que escreveu Henri Nouwen: a coisa mais importante na missão da igreja na atualidade é impedir que as pessoas fiquem tão ocupadas a ponto de não ouvirem mais a voz de Deus. A principal dica é aprender a parar, fazer a pausa do Shabat. Como vamos saber quem é Deus se nunca paramos?”

 

A igreja local e uma comunidade santa

A jornada da santidade não é individual, mesmo que seja tão íntima ao ponto de transitar nos recônditos mais escuros da nossa alma. É fundamental caminharmos em comunidade. 

Mas como a igreja local pode nos ajudar a viver uma vida santa?

Pedro Paulo: “Acredito que as igrejas podem focar em três aspectos fundamentais: cultivando uma cultura de contemplação, fortalecendo os relacionamentos comunitários, e engajando todos os membros na missão de Deus”. 

Jony de Almeida: “Vivendo isso no oculto, começando pela liderança das igrejas. Uma vida real que começa de dentro. Aí, então, convoque com todo amor a todos e todas da comunidade a experimentar este tipo de santidade real”.

Rodolfo Montosa: 1) ensino centrado na graça e na transformação pelo Espírito Santo; 2) Discipulado intencional e relacional; 3) ambiente de comunhão e confissão mútua; 4) vida de oração e busca pela presença de Deus; 5) uma cultura que valoriza a integridade em todas as áreas da vida; 6) testemunho vivo da santidade na prática.

Valdinei Ferreira: “Precisamos, principalmente pastores e líderes, falar menos da igreja, nos preocuparmos menos com a sobrevivência da igreja e nos enamorarmos mais de Jesus. Hoje há muita preocupação com as coisas que podem atrair pessoas para a igreja enquanto se esquece que o encontro e a imitação de Jesus é a razão de ser da igreja”.

 

Dica de livro:

“Santo – 21 dias de jejum e oração”, de Rodolfo Montosa.

Foto de Lissânder Dias

Lissânder Dias

Membro da 2ª IPI de Maringá, PR, e do Conselho Editorial de O Estandarte

Compartilhe este conteúdo. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Conteúdo Geral

Notícias Relacionadas

Categorias

Seções

Artigos por Edições

Artigos mais populares

Não Existem mais Posts para Exibir
Política de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos fornecer a melhor experiência possível para o usuário. As informações dos cookies são armazenadas no seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajuda a nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.