Relatos de um teólogo canadense no Brasil

Da Colúmbia Britânica no Canadá para São Paulo no Brasil e de volta para Colúmbia Britânica.

 

Uma recepção calorosa por parte dos “escolhidos não-tão-congelados” em São Paulo e cidades vizinhas.

 

“O que os canadenses imaginam quando pensam no Brasil?”. A pergunta veio de um colega pastor em um restaurante familiar lotado que servia churrasco, uma variedade de carnes assadas cortadas na mesa, no estilo rodízio. Quando um garçom chegou com mais carne (claramente não é um bom lugar para visitar se você for vegetariano!) e generosos pedaços de porco foram deslizando para nossos pratos, respondi: “É difícil dizer, mas acho que muitos de nós pensamos em grandes cidades como Rio ou São Paulo, na Floresta Amazônica e em praias bonitas”.

Parei por um momento e perguntei: “E o que os brasileiros pensam quando imaginam o Canadá?” “Hmm,” respondeu meu companheiro de jantar, “um país enorme com pessoas amigáveis, ursos e muita neve.” Eu ri e disse: “É mais ou menos isso.”

Esta foi minha primeira visita ao Brasil neste outono, a convite da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB). Ao longo dos meus anos ensinando no colégio da Igreja Presbiteriana do Canadá na Universidade da Colúmbia Britânica, tive muitos estudantes maravilhosos vindos do Brasil.

Alguns permaneceram no Canadá e hoje servem como pastores em igrejas presbiterianas; outros vieram apenas para seus programas acadêmicos e depois retornaram para casa.

Deus me ensinou muito por meio da comunidade internacional de estudantes que chamam o St. Andrew’s Hall de lar, e foi um presente visitar o Brasil e vivenciar de perto um pouco da missão da igreja naquele lugar.

 

Pequena, mas em crescimento

Rev. Ross e Rev. Paulo Jr. Em frente à 1ª IPI de Curitiba, PR

Quando cheguei ao Brasil, fui recebido por meu ex-aluno Paulo Jr., que morou no St. Andrew’s Hall em Vancouver, por muitos anos enquanto eu supervisionava seu Mestrado em Teologia em Evangelização. Paulo agora serve em uma histórica igreja no centro da cidade – a 1ª Igreja Presbiteriana Independente de Curitiba, PR, uma bela capital de quase dois milhões de habitantes no estado do Paraná.

Encontrei-me com membros do presbitério local, líderes de organizações que trabalham com universitários e preguei no culto deles no domingo. A IPIB é uma entre várias denominações presbiterianas do país, frequentemente situada teologicamente entre polos conservadores e progressistas. Por exemplo, a denominação ordena pastoras e mantém uma visão tradicional do casamento.

Fundada em 1903 pelo Rev. Eduardo Carlos Pereira, a IPIB buscou independência de missionários estrangeiros e começou com apenas sete pastores e quinze presbíteros. Hoje, a denominação possui quase 100.000 membros e mais de 500 congregações.

Nas conversas com líderes pastorais, ficou claro que, em um país e cultura fortemente dominados pelo catolicismo romano, aqueles que professam uma fé reformada se entendem como uma expressão minoritária do cristianismo — ainda assim, uma expressão que busca ativamente evangelizar e acolher novos membros em sua comunidade.

Paulo enfatizou os desafios gêmeos de plantação e revitalização de igrejas enfrentados por sua denominação no Brasil, observando que os presbiterianos estão presentes em apenas oito por cento dos municípios brasileiros.

“Hoje, a plantação de igrejas precisa se expandir estrategicamente, mesmo enquanto as congregações já existentes recuperam caminhos sustentáveis em membresia, formação de liderança e saúde financeira”, Paulo me disse. “Atualmente, temos 34 campos de plantação de igrejas no Brasil”.

Refletindo sobre esses desafios, ele acrescentou: “Precisamos plantar amplamente, renovar profundamente e reconciliar sabiamente — é assim que a Igreja Presbiteriana Independente pode servir ao Brasil e ao mundo lusófono com clareza teológica reformada e coragem pastoral”.

 

Ministério na metrópole

Em seguida, viajei para São Paulo, uma das maiores cidades do mundo, uma metrópole vibrante e complexa com mais de 23 milhões de habitantes. A cidade reúne arranha-céus luxuosos, um centro comercial movimentado e outros bairros com características bem distintas, incluindo favelas, com sua alta concentração populacional, infraestrutura precária e desafios de segurança.

Rev. Ross Lockhart, Rev. Marcos Nunes, reitor da FATIPI e Presb. Ítalo Curcio, Diretor Executivo da Fundação Eduardo Carlos Pereira.

Depois de explorar o belo e histórico centro da cidade, encontrei-me com o diretor Marcos Nunes da Silva e com o corpo docente da FATIPI, a Faculdade de Teologia de São Paulo da IPIB, adequadamente localizada na Rua Genebra. Troquei impressões com colegas sobre os avanços no campo da educação teológica, conversando sobre o crescente impacto da educação à distância e a capacitação de presbíteros e líderes leigos para o ministério.

Sendo o maior país de língua portuguesa do mundo, havia também uma consciência da oportunidade — e, até certo ponto, da responsabilidade — de desenvolver um ministério voltado a igrejas reformadas em Portugal e em antigas colônias, como Angola, que possuem um grande número de presbiterianos, muitas vezes sem pastores teologicamente preparados para apoiar seus ministérios.

Naquela noite, ofereci uma palestra para professores e estudantes, baseada em meu estudo mais recente sobre o cristianismo em Vancouver, publicado em meu livro West Coast Mission. Tivemos um período de perguntas e respostas rico e envolvente, com participantes que reconheceram o crescente impacto do pensamento secular em seu próprio país, historicamente marcado por uma profunda identidade cristã.

[A palestra na FATIPI pode ser acessada aqui]

 

Abraços, não apertos de mão

Depois de me despedir dos colegas da área de educação teológica, viajei com alguns deles para a cidade de Sorocaba, com pouco menos de um milhão de habitantes, para participar do Fórum SEMEAR, uma conferência sobre plantação e revitalização de igrejas com pastores presbiterianos.

Participação do Dr. Ross no Fórum Semear que ocorreu em Sorocaba e foi promovido pela Secretaria de Evangelização e a Secretaria de Revitalização de Igrejas da IPIB

Organizado pelas secretarias de Evangelização e de Revitalização de Igrejas da IPIB, na IPI Hub Morumbi, uma promissora igreja em plantação na cidade de Sorocaba, SP, o encontro foi um tempo de adoração, aprendizado e encorajamento para aqueles que iniciam novos ministérios e que buscam renovar igrejas em todo o Brasil.

Além das minhas próprias apresentações — explorando a natureza do testemunho cristão e da evangelização —, a conferência contou com palestras de líderes como o presidente (moderador) da IPIB, o Rev. Sérgio Gini, e a ministra da missão da IPIB, a Rev. Jacqueline Paes. Foi fascinante ouvir relatos fiéis de um conjunto diverso de líderes que atuam em contextos socioeconômicos distintos — e muitas vezes difíceis —, buscando compartilhar o evangelho com sinceridade enquanto formam e fortalecem comunidades de fé cristã, novas ou renovadas.

 

Você pode ouvir as palestras do Rev. Ross Lockhart aqui:

 

Como presbiteriano canadense vindo de uma cultura eclesial às vezes descrita como “os escolhidos congelados de Deus”, apreciei o calor dos relacionamentos demonstrado pelos líderes da igreja no Brasil.

Pessoalmente, tendo a preferir um aperto de mão a um abraço, então observei com atenção o afeto expresso entre esses líderes pastorais. A ênfase deles na família e na comunidade foi uma parte especialmente significativa da minha experiência.

O casamento de Angie e Lucas.

Depois de aprender tanto sobre a presença presbiteriana — pequena, mas crescente — no Brasil, eu ainda tinha mais uma parada inesperada antes de voltar para casa, em Vancouver. Dois ex-alunos, um brasileiro (Lucas) e uma canadense (Angie), entraram em contato para dizer que o casamento deles aconteceria naquela mesma semana em que eu estaria no país, na cidade natal de Lucas, Botucatu. O convite para participar e co-oficiar um casamento brasileiro era bom demais para recusar.

Reunimo-nos na Igreja Presbiteriana Independente de Botucatu para o culto especial da noite. A cidade abriga uma universidade, e a igreja presbiteriana independente é conhecida tanto pelo rigor intelectual quanto pela profunda integração com as artes. Isso significou que o culto de casamento, com duas horas e meia de duração, contou com um santuário lindamente decorado e um cortejo nupcial do tamanho de um time de futebol.

Enquanto a banda de louvor nos conduzia em adoração ao longo do culto, o coral também apresentou uma peça musical belíssima, e um membro da congregação realizou uma performance aérea em tecido, ao estilo Cirque du Soleil, dentro do santuário.

Certamente foi uma noite inesquecível, encerrando uma experiência fascinante sobre como é o testemunho reformado no Brasil hoje.

Parti no dia seguinte, encorajado e inspirado pelo vislumbre que tive do que Deus está fazendo nas igrejas e por meio delas, em um país com potencial para moldar o testemunho da igreja global pelas próximas décadas.

Rev. Dr. Ross Lockhart, Rev. Clayton Leal, Rev. Grytsje Couperus e Rev. Carlos. Na IPI Central de Botucatu, SP.

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Nota do editor: este artigo foi publicado pela primeira vez no Christian Courier em novembro de 2025, que gentilmente concedeu a autorização de publicação para O Estandarte.

Nota do tradutor: A Colúmbia Britânica é uma província canadense localizada na costa oeste, conhecida por sua natureza exuberante, diversidade cultural e por abrigar cidades como Vancouver e Victoria.

Foto de Rev. Ross Lockhart

Rev. Ross Lockhart

Reitor do St. Andrew’s Hall e professor de Estudos da Missão na Vancouver School of Theology.

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Uma resposta

  1. Ross Lockhart é um pensador instigador que combina pensamento crítico com um coração incrivelmente acolhedor. Seu tempo no Brasil foi profundamente abençoado para aqueles que puderam ouvi-lo!

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