Por que a escatologia é importante?

A escatologia, muitas vezes vista como um campo distante da vida prática, é comumente associada à tentativa de prever o futuro ou conectar eventos atuais a passagens....

 

A escatologia, muitas vezes vista como um campo distante da vida prática, é comumente associada à tentativa de prever o futuro ou conectar eventos atuais a passagens bíblicas de forma forçada. No entanto, para a teologia reformada, a escatologia é uma parte essencial da vida cristã. Quando compreendida corretamente, ela não é um exercício especulativo, mas uma força transformadora que orienta nossa esperança e nos impulsiona a viver de maneira ativa e engajada no presente.

 

Escatologia e esperança futura

No coração da escatologia está a promessa de um futuro glorioso preparado por Deus para aqueles que nele creem. 

A Bíblia assegura que Cristo voltará, estabelecerá um novo céu e uma nova terra (Ap 21.1-4), e que todas as coisas serão renovadas (2Co 5.17). 

Portanto, a escatologia não é apenas uma reflexão distante sobre o futuro, mas uma fonte de esperança viva e presente. Essa esperança influencia diretamente nossas atitudes e ações no dia a dia. 

Quando nossa esperança está alinhada com as promessas de Deus, ela transforma profundamente a maneira como vivemos.

 

Visões distorcidas da escatologia que devemos evitar

Entretanto, existem visões escatológicas que distorcem essa esperança, afetando a maneira como o cristão se relaciona com o mundo. 

Uma dessas visões considera o mundo atual como descartável, destinado à destruição total, e o povo de Deus será retirado antes disso (como no pré-tribulacionismo). 

Essa perspectiva minimiza o valor da criação e o papel da igreja, argumentando que, uma vez que o mundo será destruído, o foco dos crentes deve ser apenas a salvação das almas, sem envolvimento com questões sociais ou culturais. 

Essa visão desconsidera que Deus está comprometido com a renovação do mundo, e faz com que a igreja se veja como uma entidade alienígena, esperando apenas “fugir” para um céu distante. Isso resulta em uma atitude de indiferença com relação à vida cotidiana e à cultura.

Por outro lado, entre os liberais, há uma visão escatológica otimista que propaga a ideia de que a igreja tem a missão de transformar o mundo sem a intervenção sobrenatural de Deus. 

Segundo essa perspectiva, a igreja deve buscar um reino de paz por meio de suas ações em diversas esferas da sociedade — como política, educação e artes — acreditando que a transformação ocorrerá unicamente pelo esforço humano. 

Essa visão, ao confiar excessivamente na capacidade humana de ‘melhorar’ a criação, ignora a necessidade de uma renovação divina e da soberania de Deus, que trará a consumação final dos tempos.

 

A escatologia bíblica e equilibrada

A proposta para o cristão reformado é adotar uma visão escatológica que esteja em harmonia com a revelação bíblica. 

Essa visão, longe de ser indiferente ao mundo ou de confiar exclusivamente nas forças humanas, reconhece que a criação, embora corrompida pelo pecado, ainda é amada por Deus e será redimida no fim. 

A renovação do cosmos é a culminação do plano de Deus, que envolve tanto a salvação dos eleitos quanto a restauração de toda a criação por meio de Cristo (Rm 8.19-23). Afinal, esperamos não apenas um novo céu, mas também uma nova terra. 

Vale ressaltar que, no contexto original, “novo” não significa “outro”, mas “renovado”.

Uma visão escatológica bíblia e equilibrada tem implicações práticas profundas. 

Quando nossa esperança está fundamentada nas promessas de Deus, nossas ações no presente ganham significado. A boa escatologia ensina que a igreja deve ser ativa no mundo, engajando-se nas questões sociais, culturais e políticas, não porque acreditamos que podemos criar um reino perfeito aqui, mas porque nossa esperança futura nos motiva a trabalhar por um mundo mais justo e fiel ao plano de Deus. 

A igreja, ao se envolver com a sociedade, não apenas cumpre sua missão evangelística, mas também reflete a renovação que virá. A ação da igreja no presente é uma antecipação do que será plenamente realizado no futuro, quando Cristo consumar todas as coisas.

A teologia reformada não vê a criação como descartável, mas como algo que Deus ama e que será redimido. Esta compreensão leva a igreja a viver de maneira fiel, com esperança, comprometendo-se com as boas obras que Deus preparou para nós (Ef 2.10) e proclamando o evangelho da redenção e renovação para o mundo inteiro.

 

Resumindo

Estudar escatologia é fundamental para a vida cristã porque não apenas nos orienta em relação à nossa esperança futura, mas também transforma a maneira como vivemos no presente. 

Quando nossa esperança está alinhada com a palavra de Deus, ela nos motiva a agir de forma fiel, compassiva e comprometida com a missão de Deus. 

Uma escatologia bíblica e equilibrada nos impede de cair em visões que desvalorizam a criação ou que depositam toda a confiança nos esforços humanos, e nos chama a um compromisso ativo com o mundo, com os olhos fixos na consumação final da promessa de Deus. 

 

Rev. Rodrigo Falsetti, pastor auxiliar da 1ª IPI de Bauru, SP, e professor Centro de Estudos John Knox 

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