Na foto acima: Simone Vieira (Tearfund), Rev. Agnaldo (Religiões pela Paz), Welinton Pereira (Visão Mundial) e Raquel Arouca (Renovar Nosso Mundo)
Conversamos com o Rev. Agnaldo Pereira Gomes, pastor do Presbitério de Sorocaba e um dos diretores de Religiões pela Paz Brasil, que implementa a IRI Brasil. Ele fala sobre a participação dos evangélicos na COP30 e destaca a proatividade dos cristãos e os desafios que nascem a partir dessa Conferência do Clima realizada em Belém, PA, de 10 a 21 de novembro.
O ESTANDARTE – Como foi a participação dos evangélicos na COP30?
Rev. Agnaldo Pereira Gomes – A meu ver, a participação foi positiva. Não sei precisar o número, mas certamente tivemos dezenas – ou talvez mais de uma centena – de irmãs e irmãos, de várias denominações, representando o universo evangélico. Apesar de numericamente pequeno frente aos milhões de evangélicos no Brasil, o grupo era muito comprometido com a causa da missão cristã de cuidar da criação.
Tínhamos pessoas de múltiplas formações acadêmicas: advogados, jornalista, educadores, biólogos, teólogos, missionários etc. Muitos de nós tivemos ações diretas, tanto na Green Zone*, mas principalmente na Blue Zone**, participando como painelistas, concedendo entrevistas, entrevistando pessoas, entregando cartas de suas organizações cobrando compromisso de políticos, autoridades e pessoas com poder de decisão, além de participação nas manifestações de visibilização da causa e protestos contra ações predatórias e leniência da Estado diante de ações destrutivas que causam o caos climático.
O ESTANDARTE – Você volta esperançoso?

Rev. Agnaldo Pereira Gomes – Sim, volto esperançoso porque a luta continua, pois a causa é nobre e urgente. Tivemos inúmeros avanços que, certamente, trarão benefícios no combate das mudanças climáticas, dentre eles destaco alguns:
- Participação expressiva dos povos indígenas, marcando presença potente, que desejam ser ouvidos, como personagens centrais na preservação dos diferentes biomas e na solução para equilíbrio da saúde do planeta;
- Criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) – Apesar de muitas críticas por parte de ambientalistas e organizações sérias, penso que a criação deste fundo é um avanço, pois pela primeira vez os povos das florestas e as pessoas que, de fato, preservam o meio ambiente poderão ser recompensados pelos seus esforços. Ao mesmo tempo, será inédito o uso de recursos do capital financeiro para mitigar os prejuízos ao meio ambiente e compensar os contribuintes e países em desenvolvimento, segundo a quantidade de hectares de florestas efetivamente protegidas;
- O “Pacote Belém” foi muito significativo, pois aprovou 29 documentos de forma unânime pelos 195 países, com ênfase na Decisão do Mutirão Global.
Porém, não há como esconder uma certa frustração, pois nossa expectativa era mais alta. Não conseguimos avançar de forma mais corajosa nas decisões quanto a transição dos combustíveis fósseis para energias mais limpas e sustentáveis. Era aguardado um “mapa do caminho” para esse processo de transição energética, mas não foi possível, ficando na expectativa de sua implementação na ideia para no que foi chamado de “mutirão”, que deverá ser trabalhado em conjunto, com roteiros e tarefas claras, identificando desafios e oportunidades para atingirmos objetivos maiores.

O ESTANDARTE – Pensando no papel da igreja, o que a COP30 pode nos ensinar no cuidado da Criação?
Rev. Agnaldo Pereira Gomes – Infelizmente a igreja cristã e, principalmente, nós – os evangélicos -, temos sido omissos durante séculos. Porém, nem tudo está perdido. Nos últimos anos temos visto um mover de Deus entre o seu povo que, ainda que de forma tímida, desperta para a causa do cuidado da criação. Neste sentido, a COP30 foi de grande valia para dar visibilidade ao tema da crise climática e mobilizar dezenas de igrejas, organizações cristãs e movimentos populares a um avanço mais aguerrido em defesa de nossa casa comum. Na COP 30, éramos mais de uma centena de pessoas, homens e mulheres, de todas as idades, principalmente jovens, de muitas regiões do Brasil e do exterior, numa linda pluralidade de cores denominacionais, unidos por uma causa maior, certos de que somos missionários do Reino de Deus, lançando sementes que devem gerar direitos de vida plena e produzir a paz em sua amplitude.
A COP30 foi de grande valia para dar visibilidade ao tema da crise climática e mobilizar dezenas de igrejas, organizações cristãs e movimentos populares a um avanço mais aguerrido em defesa de nossa casa comum.
O ESTANDARTE – Como presbiteriano independente, que mensagem você traz da COP30 para nossos irmãos de tantas igrejas locais espalhadas pelo Brasil?
Rev. Agnaldo Pereira Gomes – Em Belém do Pará, éramos, ao menos, três presbiterianos independentes credenciados pelas Nações Unidas para estar na Blue Zone, onde estavam os chefes de Estado, negociadores de alto nível e os observadores. Além de mim, a IPI se fez presente pela Raquel Arouca, da IPI Novo Norte (Presbitério de Campinas), Bióloga, com Mestrado em Ecologia e Recursos Naturais; e o missionário e teólogo Rev. Timóteo Carriker, do Presbitério Grande Florianópolis.
Minha mensagem e minha esperança é que a IPI resgate sua história de vanguarda e seja referência como uma igreja cuidadora, que desperte uma nova geração de jardineiros do Reino, apaixonados pela missão de cuidar da criação de Deus.
Minha mensagem e minha esperança é que a IPI resgate sua história de vanguarda e seja referência como uma igreja cuidadora, que desperte uma nova geração de jardineiros do Reino, apaixonados pela missão de cuidar da criação de Deus.
O ESTANDARTE – Em termos práticos, como a unidade da igreja fortalece a ação ambiental do povo de Deus?
Rev. Agnaldo Pereira Gomes – A unidade cristã é um testemunho potente de que somos irmãos, filhos do mesmo Deus, dando ao mundo a possibilidade de crer que Jesus Cristo é o enviado de Deus (Jo 17.21) para resgatar e libertar a humanidade e toda a criação que geme (Rm 8.19-21).
Assim, juntos podemos ser fortes para fazer diferença ao grande desafio das mudanças climáticas. Creio que nosso Seminário e outras instituições de formação precisam intensificar a ação de formação e conscientização de nossos futuros líderes. Penso que a AG (Assembleia Geral) deve abraçar a causa da criação e incentivar presbitérios e igrejas locais a desenvolverem pastorais e ações práticas que possam fazer diferença nas cidades, contribuindo assim, para melhor qualidade de vida das pessoas. Penso que é vital formamos “discípulos verdes” ou “cristãos jardineiros”, que abracem a missão de cuidar da criação.
Penso que é vital formamos “discípulos verdes” ou “cristãos jardineiros”, que abracem a missão de cuidar da criação.
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Quem é Agnaldo Pereira Gomes?
Pastor do Presbitério de Sorocaba, Diretor de Religiões pela Paz Brasil, organização que implementa no Brasil a IRI – Iniciativa Inter-religiosa pelas Florestas Tropicais. A Iniciativa Inter-Religiosa pelas Florestas Tropicais no Brasil (IRI Brasil) é uma plataforma de apoio às lideranças religiosas para que possam ampliar sua contribuição para a preservação do equilíbrio climático, a conservação e o uso sustentável das florestas e a proteção dos povos indígenas e das comunidades locais.
Notas:
* A Green Zone foi uma área de 45 mil m² dedicada à participação social.
** A Blue Zone foi uma área de 160 mil m² dedicada às negociações globais.







