O Reino de Deus é um tema central nas Escrituras e destacado no ensino de Jesus. Na perspectiva reformada, enraizada na Teologia da Aliança, o Reino de Deus é compreendido como uma realidade presente e futura. Ele foi inaugurado na primeira vinda de Cristo, mas aguarda sua consumação plena na segunda vinda. Essa tensão entre o “já” e o “ainda não” define a vida cristã e o papel da Igreja na história da redenção.
A Teologia da Aliança enxerga toda a história bíblica como uma progressiva revelação do Reino de Deus, estruturada pelas alianças que Deus estabelece com seu povo. Desde o Éden até a Nova Jerusalém, Deus age para trazer todas as coisas sob o senhorio de Cristo. A nova aliança, selada com o sangue de Cristo, não apenas inaugura uma nova etapa da história da salvação, mas manifesta a chegada do Reino de maneira decisiva. Jesus declara: “O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.15).
Na visão amilenista, como já vimos em edições anteriores, Cristo reina agora, de forma espiritual, à direita do Pai. O “milênio” descrito em Apocalipse 20 não é um período futuro literal, mas simboliza o tempo atual entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, quando Satanás está limitado em seu poder, e o Evangelho está sendo proclamado às nações.
Por outro lado, o dispensacionalismo clássico entende o Reino de Deus como algo exclusivamente futuro e literal — a ser instaurado após o arrebatamento da Igreja e a Grande Tribulação, num reino milenar terreno com sede em Jerusalém. Essa leitura cria uma forte separação entre Israel e a Igreja, e entre o presente e o futuro da atuação de Deus.
Prejuízos de uma visão meramente futura do Reino
Quando a Igreja entende que o Reino de Deus é apenas futuro, e que o reinado de Cristo ainda não começou, surgem graves consequências teológicas e práticas:
- Desvalorização do senhorio presente de Cristo
A Bíblia ensina que Jesus já reina (Ef 1.20-22; 1Co 15.25). Negar isso implica enfraquecer a doutrina da exaltação de Cristo e a autoridade que Ele já exerce sobre a Igreja e as nações. Isso reduz a eficácia da cruz e da ressurreição como eventos inaugurais do Reino.

- Passividade quanto à missão da Igreja
Se o Reino é somente futuro, a Igreja corre o risco de adotar uma postura de espera passiva, focando apenas na salvação individual e no “céu” após a morte, em vez de testemunhar, transformar e engajar-se no mundo agora como embaixadora do Reino (2 Co 5.20).
- Desconexão entre fé e vida pública
Essa visão pode alimentar um dualismo entre o “espiritual” e o “secular”, levando cristãos a se afastarem de questões sociais, culturais e políticas, como se Deus não tivesse interesse pelo mundo presente. A visão reformada, por outro lado, entende que o Reino afeta todas as esferas da vida, pois Cristo reina sobre tudo e todas as coisas.
- Redução da eclesiologia
Para quem vê o Reino como só futuro, a Igreja muitas vezes é tratada como um parêntese no plano de Deus — uma substituição temporária até que o Reino “real” (terreno e judaico) venha. Isso contradiz a Bíblia, que ensina que a Igreja é o povo da nova aliança, o Corpo de Cristo, a manifestação visível do Reino na terra (Ef 3.10; Mt 5.13-16).
O papel da Igreja como testemunha do Reino
A perspectiva reformada e amilenista compreende que a Igreja vive entre o “já” e o “ainda não”, chamada a ser testemunha do Reino de Deus no tempo presente. Ela proclama a mensagem do Rei crucificado e ressurreto, vive de forma contracultural, busca a justiça, promove reconciliação, serve com compaixão e esperança, e antecipa a nova criação.
A Igreja, como povo da nova aliança, não espera o Reino passivamente, mas o encarna em sua adoração, discipulado, serviço e missão. Ela é um sinal visível de que Cristo já reina e de que Seu Reino será plenamente manifesto.
Portanto, negar a presença atual do Reino é negar a glória da cruz, a realidade da ressurreição e o papel da Igreja como cooperadora na missão de Deus. O Reino já chegou, e a Igreja é chamada a vivê-lo — mesmo em meio às dores da espera — até que Ele venha em glória.







