Claudete Niël de Castro tinha apenas 14 anos de idade quando um grupo de mulheres da sua igreja local, a 4ª IPI no bairro de Santana, em São Paulo, SP, (entre elas, a mãe da garota) começou a visitar um presídio feminino. A partir daquela experiência, o grupo resolveu criar um lar para abrigar os filhos das presidiárias. Dominicalmente, as crianças visitavam a igreja e a jovem Claudete ensinava a Bíblia para elas. Dos 14 aos 28 anos, a garota que ia se tornando adulta nunca deixou de estudar a Palavra com os pequeninos. “Aquelas crianças mudaram a minha visão de mundo; fizeram com que eu olhasse para a alma”, conta ela, hoje, com 71 anos de idade. Foi assim que Claudete escolheu ser psicóloga: para continuar olhando para a alma das pessoas.
Já o Paulo Vitor Pereira da Silva tem 32 anos e é membro da 2ª IPI de Maringá (PR). Formado em Psicologia em 2017, atua há 8 anos como psicólogo clínico. Sua experiência o levou a conversar especialmente com adolescentes e jovens. Ele lembra que a escolha profissional surgiu no ambiente da igreja. “O que me fez ir para a Psicologia tem muito a ver com a minha relação com a igreja local, na qual participo ainda hoje. Quando eu frequentava o grupo de adolescentes, com 16 ou 17 anos, eu descobri que tinha facilidade para ouvir as pessoas e uma vontade de querer, de alguma forma, estar presente para elas”, lembra.
Tanto a Claudete quanto o Paulo são psicólogos e membros de alguma igreja da IPI do Brasil. Suas vidas – e suas escolhas profissionais – foram moldadas pela vivência cristã em comunidade. Eles olham para a sociedade atual e lamentam o estado das coisas.
“O que você está sentindo?”
No mês em que o Brasil discute a saúde emocional, vale a pena fazer a pergunta clássica de todo psicólogo: “o que você está sentindo?”.
Os dados atuais não são nada animadores:
- De acordo com a última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde – OMS, em 2019, são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo (sem contar com os episódios subnotificados, pois com isso, estima-se mais de 1 milhão de casos).
- No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia.
- 26,8% da população em geral já foi diagnosticada com algum tipo de transtorno de ansiedade, enquanto 12,7% já foram diagnosticadas com algum transtorno depressivo.
- 472.328 licenças médicas foram emitidas em 2024, demonstrando um aumento de 68% em relação a 2023.

“A sociedade está nos roubando de nós mesmos”
Para Claudete, a Psicologia é uma questão espiritual, e o cristão não pode passar a vida como se isto não existisse. “O ‘examine-se o homem a si mesmo’ não se trata de um minutinho de oração antes da eucaristia, mas uma ordem contínua”, afirma. Olhando para a situação atual, ela entende que a vida social tem roubado as pessoas de si mesmas, ou seja, de suas individualidades. “Tomou seu lugar o individualismo, onde o Ego tem que satisfazer-se a qualquer custo; consumismo e competição são as palavras de ordem. Tudo leva à inversão de valores onde as consciências estão anestesiadas por distrações que hoje nomeamos como ‘dis-traições’. A humanidade trai a si mesmo, escondendo-se daquilo para o que Deus o criou”. “Realizando atendimentos de muitos jovens e adultos, percebo que a saúde mental de muitas pessoas hoje, caminham para um lugar de grande sofrimento e angústia”, relata Paulo.
E a igreja, como vai?
Por conta de suas vivências pessoais, Claudete e Paulo podem olhar para a igreja não somente como psicólogos, mas como cristãos. “Pensando em uma igreja saudável, não perfeita, compreendo que ali se faz um local muito apropriado para o desenvolvimento de saúde emocional. Isso porque a igreja trabalha a formação do ser humano da infância à velhice”, opina Paulo.
Ao entrar num tema delicado – o suicídio -, Claudete questiona a postura da igreja. “A igreja lamenta, mas não se move. A pessoa que tira a própria vida é um abandonado e/ou um revoltado que não se concebe mais como alguém que pertence”. “Precisamos primeiramente entender o nível de sofrimento de uma pessoa em risco de suicídio. Isso implica em ações de conscientização, com a capacitação das lideranças para um encaminhamento ao profissional quando necessário”, orienta Paulo.
Cego guiando outro cego?
Pensando especificamente na situação emocional dos pastores da IPIB, quais os desafios para um pastor viver de forma saudável?
Claudete responde com a célebre pergunta de Jesus: “Como pode um cego guiar outro cego? Cairão ambos no mesmo buraco” (Mt 15.14; Lc 6.39). Ela diz que atualmente atende nove pastores, e nenhum é da IPI. “Em 35 anos de clínica atendi somente um pastor de nossa denominação”. Para Paulo, um dos caminhos de cura está em saber lidar com o ideal e o real no ministério. “O pastor tem o grande desafio de buscar uma construção possível sobre o que é ser um pastor – ‘possível’ porque ele precisa lidar com o que é real e o ideal. É entender quais demandas são alcançáveis e quais são inalcançáveis; e então fazer as pazes com isso”.
O modelo de saúde emocional
Para ambos, Jesus é o modelo perfeito de saúde emocional. “A autenticidade de Jesus é tanta que ele não precisava esconder os sentimentos. Sua preocupação era em cumprir o seu propósito. Para isso, estava de forma inteira para o outro”, diz Paulo. Para Claudete, “Jesus ousou quebrar padrões, vivia uma vida livre com amor e cuidado pelas almas. Sabia da tarefa que o Pai lhe dera, e não fugiu dela”.
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