Confesso que pensar sobre o que é ser presbiteriano independente fora do contexto brasileiro, considerando a conjuntura da caminhada cristã, do exercício de espiritualidade e da vida pessoal, me fez avaliar questões que talvez ainda não tinham sido objeto de reflexão.
Sou casado com a Paula há 22 anos, e não temos filhos. Após acurado planejamento e, principalmente, tendo a convicção de que este era o plano do Senhor, mudamo-nos para Portugal em janeiro de 2020.
Nossa vinda para cá tinha um objetivo principal: vim para fazer meu doutorado em História Contemporânea, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Desde que chegamos, passei a frequentar uma comunidade que fica no coração de Lisboa, a Igreja Evangélica Lisbonense Presbiteriana (IEL), uma igreja que hoje conta com seus 126 anos de existência.
Na primeira vez que tive a oportunidade de estar em Portugal, em 2017, fui convidado para visitar a IEL por um de seus presbíteros, o qual conheci em um congresso realizado por ocasião dos 500 anos da Reforma Protestante.
Pouco mais de dois anos após aquele convite, tive a oportunidade de visitar esta igreja e, desde o primeiro domingo, me inseri na comunidade para adorar e servir ao Senhor junto daqueles irmãos e irmãs.
Em 2022, fui convidado para ser pastor desta igreja, sendo eleito para o triênio de 2022-2025.
Gosto sempre de fazer alguns destaques quando me perguntam sobre a experiência de viver em Portugal e de pastorear uma igreja portuguesa histórica, que se assume e vive o fato de ser uma comunidade multicultural, composta em sua maioria por portugueses, africanos e brasileiros.
Dentre as considerações, não é demais enfatizar que Portugal definitivamente não é uma “outra sede do Brasil”, ou a “casa dos avós”. Naturalmente, há evidente proximidade cultural. Cntudo, com relação à maioria das coisas, o que aproxima de Portugal é exclusivamente a língua portuguesa que, inclusive, se distancia consideravelmente do português que é falado no Brasil.
Ou seja, ainda que haja a aproximação da língua e outras afinidades, se trata de uma cultura muito distinta da cultura brasileira, de modo que é preciso conhecê-la e respeitá-la, proporcionando, com a ajuda de Deus, a abertura de caminhos para a proclamação e boa recepção do evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo.
Há ainda outra questão que me parece ser digna de destaque.

Por mais que Portugal seja um país onde predomina o catolicismo romano, muito mais nominal do que de prática, e ainda que permaneçam narrativas no sentido de que o país não aceite o Eeangelho em virtude do catolicismo presente, as experiências destes quase cinco anos por aqui apontam para outra realidade.
O passado ferrenhamente antiprotestante já não é uma realidade no país. É evidente que podem existir casos isolados, como ocorre com todas as religiões, no entanto, não é possível afirmar que esta é uma regra.
As maiores barreiras são muito mais concernentes ao funcionamento e à liderança das igrejas no meio dos próprios evangélicos, notadamente diante da multiculturalidade que tem se ampliado largamente no meio evangélico português, com uma representatividade de 81,6% de brasileiros, conforme Relatório de Estatística da Aliança Evangélica do ano de 2023.
Ressalto ainda algo que me parece ser importante acerca da igreja evangélica portuguesa, e que se configura como um grande desafio: a despeito do que muitos supõem, se trata de uma igreja com pouquíssimos recursos, menores do que a maior parte das igrejas evangélicas brasileiras.
Alguns pressupõem que somente pelo fato de se tratar de uma igreja da Europa, teria ela excelentes fontes de recursos, o que está longe de ser verdade.
No tocante à vida pessoal, para além de pastorear a IEL e participar como secretário da diretoria da Rádio Transmundial de Portugal, ainda presto alguns serviços ao Brasil no ramo da perícia trabalhista, o que tem a cada dia sido mais desafiante, haja vista o significativo aumento do custo de vida por aqui, bem como a paridade entre o Euro e o Real.
É neste contexto que vivo como um presbiteriano independente fora do Brasil, em Lisboa, Portugal, como um estudante, trabalhador e pastor, enfrentando os desafios da distância da terra mãe, da família, das amizades e da IPI do Brasil, mas experimentando a graça e cuidado de Deus para com as nossas vidas e para com a sua igreja. Ele sempre nos dá muito mais do que merecemos!
A Deus agradecemos por todas as coisas, e contamos com o carinho, o apoio e as orações de todas as irmãs e irmãos da IPI do Brasil.
Rogamos que o Senhor continue a abençoar e sustentar sua igreja ao redor de todo o mundo, concedendo transformação, vida e salvação.
Rev. Alan Daniel Litwin, ministro jurisdicionado ao Presbitério Ipiranga, servindo na Igreja Evangélica Lisbonense Presbiteriana, em Lisboa, Portugal.
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