Uma das minhas memórias mais fortes a respeito de minha vida na igreja no tempo em que era criança diz respeito a O Estandarte. Estava eu na casa dos dez anos. O pastor da minha igreja (1ª IPI de Osasco, antiga 5ª IPI de São Paulo) era o Rev. João Euclydes Pereira. Ele era um ardoroso defensor do órgão oficial da nossa denominação. Costumava repetir vezes sem conta que todo presbiteriano independente tinha o dever de assinar e ler o jornal.
Naquela época, os recursos tecnológicos eram muito limitados. O Estandarte era impresso em papel jornal. Não era colorido. Possuía muitos textos e poucas fotos.
Ele chegava às igrejas enrolado, com o nome do assinante. Na minha igreja, durante muitos anos, o agente de o Estandarte era o Diac. Adolfo Christensen. Ele estava sempre alegre. Nunca o víamos carrancudo, mas sempre sorrindo. E todo mês, sem falta, lá estava ele carregando um grande maço de exemplares, fazendo a distribuição a todos os assinantes.
Quem recebia o jornal ficava logo curioso. Havia um interesse muito grande pela igreja local, mas um interesse igual pela igreja nacional. Todos queriam saber o que estava acontecendo com a nossa igreja em todos os cantos do Brasil.
Havia, em especial, uma página que despertava a paixão da igreja. Era escrita pelo saudoso Rev. Mário de Abreu Alvarenga, consagrado missionário no Amazonas. Seu texto vinha sempre na última página do jornal e trazia o título “Cartas do Amazonas”.
Aquilo era a manifestação do ardor e da paixão missionária da IPI do Brasil. Éramos uma igreja jovem, que não recebia auxílio externo, mas que se sustentava com os parcos recursos de nossas pobres igrejas.
Assim funcionava O Estandarte há sessenta ou setenta anos. Era um jornal relativamente jovem, pois tivera seu primeiro exemplar lançado no dia 7 de janeiro de 1893.
Não era um jornal da igreja. Fora fundado pelos Revs. Eduardo Carlos Pereira e Bento Ferraz, juntamente com o Presb. Joaquim Alves Corrêa. Nele estavam escritas as seguintes palavras:
“Vimos ocupar, na imprensa evangélica de nosso país, o lugar que, por largos anos, ocupou a Imprensa Evangélica, há pouco extinta. Nosso programa, porém, é mais compreensivo, de acordo com os novos tempos”.
Esse texto deixa claro que O Estandarte nasceu para prosseguir a obra de Imprensa Evangélica, jornal fundado pelo Rev. Asbhel Green Simonton em 5/11/1864. Este teve seu último número publicado em 2/7/1892. Circulou, pois, durante quase 28 anos. Encerrou sua história por decisão do Board de Nova Iorque, da Igreja Presbiteriana dos EUA.
Joaquim Alves Corrêa escreveu sobre o assunto, dizendo assim: “Desde o desaparecimento da Imprensa Evangélica, até então publicada pelos missionários, surgiu a ideia, entre os nacionais, de ressuscitá-la; mas, como da declaração que se fez por ocasião de sua suspensão, se deduzia ser esta temporária, nada se podia fazer sem aquiescência de seus editores. Estes, porém, negaram-se a ceder aos nacionais o direito que tinham sobre o título da publicação”.
Portanto, fica muito claro que O Estandarte veio substituir e continuar o jornal Imprensa Evangélica, suspenso por decisão da Igreja Presbiteriana do Norte (EUA). O Estandarte surgiu como um jornal nacional, representando o presbiterianismo brasileiro que começava a caminhar com autonomia, dez anos antes da organização da IPI do Brasil.
O Rev. Vicente Themudo Lessa, na obra “Anais da 1ª Igreja Presbiteriana de São Paulo”, cuja primeira edição foi publicada em 1938, fez a seguinte avaliação: “O Estandarte exerceu grande influência na Igreja Presbiteriana Brasileira, como seu orientador… Quando o jornal começava a advogar uma ideia, era certo que a vitória estava assegurada”.
Trata-se de uma avaliação muito importante. De fato, corresponde à realidade. Afinal, antes de existir a IPI do Brasil, foi nas páginas de O Estandarte que começaram a ser debatidas as questões que acabaram provocando o cisma no presbiterianismo brasileiro, dando origem à nossa denominação.
Foi nas páginas de O Estandarte que se debateu a questão da educação teológica e da formação do ministério nacional. Foi também nas páginas de O Estandarte que despontou a questão da incompatibilidade entre a maçonaria e a profissão de fé evangélica.
Agora, O Estandarte já completou 130 anos. É tempo de valorizá-lo. É tempo de resgatar o amor que a igreja tinha por ele nos seus primeiros anos.







