O Espírito do Senhor me ungiu… e me enviou

Inspiradas pelas palavras de Jesus em Lucas 4.18, IPIs pelo Brasil demonstram que uma igreja guiada pelo Espírito Santo não vive para si, mas se torna instrumento de compaixão e transformação social...

Inspiradas pelas palavras de Jesus em Lucas 4.18, IPIs pelo Brasil demonstram que uma igreja guiada pelo Espírito Santo não vive para si, mas se torna instrumento de compaixão e transformação social

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos e dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos” (Lc 4.18).  

As palavras que Jesus proclamou na sinagoga de Nazaré, citando o profeta Isaías, continuam ecoando dois mil anos depois nas ações concretas de comunidades presbiterianas independentes espalhadas pelo Brasil.

Quando o Espírito Santo guia uma igreja, ela não permanece voltada apenas para suas próprias necessidades. Torna-se resposta às dores do mundo, extensão das mãos de Cristo para alcançar os marginalizados, os feridos e os esquecidos pela sociedade.

 

O amor é revelado em palavras e obras

Para a Rev. Ieda Rebouças, secretária do Ministério de Ação Social de Diaconia da IPI do Brasil, os sinais de uma igreja guiada pelo Espírito são inconfundíveis: “O amor de Jesus Cristo revelado por palavras e obras, vivendo a integralidade do evangelho e não se separando do próximo que sofre”.

Segundo a pastora, uma igreja sensível à voz do Espírito se caracteriza por “amar o outro e se envolver com os que sofrem todo tipo de injustiça e sem voz da sociedade”. É uma comunidade que “se mantém atenta e tem uma escuta apurada à dor do outro”, assumindo “a responsabilidade de buscar responder às necessidades do lugar onde está inserida”.

Esta sensibilidade espiritual se manifesta de forma prática quando as igrejas “respondem de maneira diaconal e missional às mazelas que o ser humano vive”, sem fazer “distinção de dores”, pois “a dor do outro importa em sua singularidade e particularidade”.

REV. IEDA EM COMUNHÃO E SERVIÇO

Nas ruas de São Paulo: o renascimento de uma missão

Na IPI do Ipiranga, em São Paulo, essa compreensão ganhou forma através do projeto “Missão Rua”. 

A história começou na década de 1990 com o projeto “Homens de Rua” e evoluiu ao longo dos anos. Em 2022, “com o mover do Espírito Santo”, diáconos e diaconisas iniciaram um movimento de distribuição de marmitas para necessitados nas proximidades da igreja.

“Após alguns meses de atendimento nas ruas, novamente o agir do Espírito Santo tocou a equipe para qualificar este atendimento”, conta Rosemeire Azevedo, presidente do MASD (Ministério de Ação Social e Diaconia) e uma das lideranças do projeto. 

Hoje, a equipe sai com carro para buscar pessoas em situação de rua e oferece atendimento quinzenal nas dependências da igreja: banho, roupas, calçados, kit de higiene e alimentação.

Mas o diferencial está no cuidado integral: “O principal é o alimento espiritual. Eles escutam a Palavra, nós os ouvimos, oramos juntos. São momentos preciosos onde sentimos o agir do Espírito Santo”.

IPI CASCAVEL EM AÇÃO DURANTE MISSÃO URBANA

 

IPI HENRIQUE JORGE DURANTE O SERVIÇO DA MESA DO CORDEIRO

 

Em Brasília: três décadas de amor em cada fio

Na IPI Central de Brasília, o Grupo Dorcas representa a persistência do amor cristão ao longo de mais de 30 anos. Criado pela então Diac. Odete Noleto Vasconcelos, o grupo se reúne semanalmente para confeccionar enxovais completos destinados a mães carentes.

Cada enxoval contém 15 itens cuidadosamente preparados: jogo de lençóis, toalha de banho, cobertor, manta, paletós, cueiros, conjuntos de pagãs, mijões, sapatinhos, touca, luvas e macacão. 

Hospitais como o Regional da Asa Norte recebem os kits e os distribuem para famílias vulneráveis que saem da maternidade sem ter o que vestir para seus bebês.

“Sabemos que é um trabalho que abençoa vidas e traz regozijo na alma, pois fazemos com amor e respondemos ‘sim’ ao ‘ide’ do Senhor Jesus”, testemunham as voluntárias. “Uma missão que movimenta a igreja, transforma quem confecciona os enxovais e quem recebe.”

IPI CENTRAL DE BRASÍLIA HÁ 30 ANOS FAZENDO ENXOVAL

No Paraná: quando a experiência pessoal se torna missão

Em Cascavel, a Missão Urbana nasceu de uma conversa simples no gabinete pastoral entre o Rev. Cleber Riboli Baptista e Valdir Rodrigues, que hoje lidera o projeto. Valdir conhece intimamente a realidade das ruas – já enfrentou o vício, a solidão e o abandono, mas também experimentou o poder restaurador de Deus.

“Movido por essa transformação, nasceu o desejo ardente de alcançar aqueles que vivem hoje as dores que um dia ele viveu”, explica Rev. Alessandro, da equipe pastoral da igreja. O foco principal é o evangelismo, e “as marmitas são mais que alimento – são sementes de esperança, portas abertas para anunciar a Palavra que liberta”.

Desde outubro de 2022, a equipe se reúne aos sábados às 19h para preparação das marmitas, tempo devocional, oração e saída para abençoar vidas nas ruas, levando uma média de 40 refeições. O impacto na comunidade foi transformador: “Começamos a ver com os olhos de Cristo. A dureza do olhar deu lugar à compaixão. O julgamento cedeu espaço ao amor.”

 

No Ceará: a mesa que alimenta corpo e alma

Em Fortaleza, o Projeto Mesa do Cordeiro, da IPI de Henrique Jorge surgiu do coração de um casal de jovens recém-casados, os Diacs. Glenda Layssa e Gabriel Barreto. No auge da pandemia de 2020, eles começaram fazendo sopa para servir pessoas em frente a um hospital público.

O que começou como iniciativa de duas pessoas cresceu e se tornou um projeto estruturado que já chegou a preparar até 200 quentinhas em uma tarde. 

“Levávamos o coração cheio de amor, a Palavra de Deus, louvores, orações, quentinhas, água, refrigerante, sobremesa, roupas, calçados e brinquedos”, relata a Rev. Cristina Moro Glória, pastora da igreja.

O projeto evoluiu para atender também entidades não governamentais, ONGs, lares de idosos, creches, casas de recuperação e casas de apoio. Já foram entregues mais de 100 redes para dormir, além de lençóis, toalhas e lonas de plástico em estação chuvosa.

“A Mesa do Cordeiro é fruto do amor de Deus”, afirma a pastora. “Todos os irmãos voluntários são tocados pelo Espírito Santo de Deus para realizar a obra. Entendemos que quem se aproxima do projeto são aqueles que compreenderam e colocam em prática a Palavra de Jesus em Mateus 25.35-36.”

 

Carvalhos de justiça plantados pelo Senhor

Essas iniciativas espalhadas pelo Brasil demonstram uma verdade profunda: quando o Espírito Santo guia uma igreja, ela se torna “carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para a sua glória” (Is 61.3). Não são projetos meramente assistenciais, mas expressões autênticas do evangelho integral.

Cada marmita entregue, cada enxoval costurado, cada banho oferecido, cada oração compartilhada revela o mesmo Espírito que ungiu Jesus para evangelizar os pobres, curar os quebrantados de coração e libertar os oprimidos.

Essas comunidades descobriram que não basta ser uma igreja “ungida para” – é preciso ser uma igreja “enviada para”. E, quando o Espírito guia, a igreja se levanta para servir, tornando-se presença viva de Cristo em meio às dores e necessidades do mundo.

Como testemunham essas experiências, uma igreja verdadeiramente guiada pelo Espírito não pergunta se deve servir, mas apenas: “Senhor, para onde nos envias hoje?”

Foto de Sheila Amorim

Sheila Amorim

Membro da IPI de Cidade Patriarca, em São Paulo, SP, editora da revista Vida & Caminho, e diagramadora do jornal O Estandarte

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