Mesmo que a igreja não tenha crianças, é de fundamental importância ter uma equipe pronta para acolhê-las, que as façam sentir que são bem acolhidas
É difícil começar este texto diante da realidade de que há igrejas sem crianças. Segundo o censo de 2024 da IPI do Brasil, 114 igrejas — ou seja, 21% das nossas comunidades — não possuem ministério infantil. Isso indica que ou não há crianças ou elas não estão sendo acolhidas.
Esse número pode ser ainda mais desafiador, pois muitas igrejas contam com um número reduzido de crianças. Diante desse cenário, o que podemos fazer?
Não ouso apresentar uma receita pronta. Em minhas formações e nos textos desta coluna, sempre reforço que o público infantil é plural, e o que funciona em uma igreja pode não se aplicar a outra.
Por isso, o que proponho são sugestões de planejamento e organização que podem ajudar a avaliar sua realidade e a construir estratégias.

A etapa mais desafiadora de qualquer planejamento é traçar um diagnóstico: por que as crianças não estão chegando? Qual é o perfil da minha igreja? Há um ambiente acolhedor para elas? Os pais se sentem bem recebidos? Tenho uma linguagem que se conecta com as famílias?
Afinal, sem os pais, dificilmente teremos as crianças de maneira contínua. Elas podem até aparecer por um tempo, mas são os adultos que definem a agenda familiar. Assim, criar um ambiente que acolha as crianças passa por incluir suas famílias que, em grande parte, são compostas por adultos.
Passada esta primeira avaliação, é hora de pensar em estratégias para tornar a igreja um espaço acolhedor e atrativo para as crianças e suas famílias. Muitas vezes, acreditamos que apenas a estrutura física define a presença infantil, mas o essencial é criar um ambiente onde elas se sintam pertencentes. Isso envolve tanto espaços adaptados quanto pessoas dispostas a recebê-las.
Mesmo que ainda não haja crianças, é fundamental formar uma equipe pronta para acolhê-las. Ter materiais e atividades já organizados demonstra que elas são esperadas e bem-vindas.
Muitas vezes, o primeiro desafio não é trazer crianças, mas despertar na igreja a consciência de que elas são parte essencial do corpo de Cristo. Crianças fazem barulho, ocupam espaços, transformam a rotina da comunidade — e, para alguns, essa movimentação pode ser incômoda. Por isso, é necessário ensinar a igreja a abraçar essa nova dinâmica, criando um ambiente que acomode todas as gerações.
Outro ponto essencial é a adaptação da linguagem e da experiência do culto. Se as crianças chegam, mas não encontram um espaço onde se sintam à vontade, dificilmente permanecerão. Isso não significa mudar a essência da igreja, mas, sim, ter intencionalidade na forma de comunicar e ensinar.
Além disso, o ministério infantil não pode ser tratado como um setor isolado ou como responsabilidade exclusiva de alguns voluntários apaixonados. Ele precisa ser abraçado por toda a igreja, e os pastores desempenham um papel fundamental nesse processo.

Recomeçar um ministério infantil exige paciência e perseverança. Os resultados podem não ser imediatos, mas cada passo em direção a um ambiente mais acolhedor para as crianças e suas famílias é um investimento na igreja e no Reino.
Criar eventos para convidá-las, fazer visitas intencionais às famílias, promover ações específicas com avós — há muitas possibilidades. No entanto, se não houver uma mudança de cultura dentro da igreja, as crianças podem até chegar, mas, da mesma forma que vieram, poderão ir embora.
Talvez, ao olhar para sua realidade hoje, pareça difícil imaginar crianças correndo pelos corredores da igreja, ocupando os bancos do culto ou participando das atividades. Mas nosso Deus é um Deus de novos começos, e Ele nos convida a confiar no que está por vir. Como nos lembra Isaías: “Não fiquem lembrando do que aconteceu no passado, não continuem pensando nas coisas que fiz há muito tempo. Pois agora vou fazer uma coisa nova, que logo vai acontecer, e, de repente, vocês a verão” (Is 43.18-19).
Se queremos que novas gerações cresçam na fé, precisamos estar dispostos a mudar. A forma como as crianças aprendem, se relacionam e interagem com o mundo não é a mesma de décadas atrás, e a igreja precisa reconhecer isso.
Adaptar-se não significa abrir mão da essência do evangelho, mas, sim, criar caminhos para que ele alcance os pequenos corações com relevância e verdade.
Estejamos atentos ao que Deus está fazendo e dispostos a preparar o caminho para as crianças, pois, onde antes havia um deserto, Ele pode fazer florescer uma nova geração firmada na fé e no amor de Cristo.







