Morre o presbítero mais longevo da IPI do Brasil

Mais do que um cargo, o presbiterato é um chamado – algo que Moysés cumpriu fielmente ao longo de 46 anos

Faleceu em 24/08/2025 Moysés Mielgo Gonçalves, com 100 anos e 10 meses de vida – o presbítero mais antigo até então em atividade na IPI do Brasil. Mais do que um cargo, o presbiterato é um chamado – algo que Moysés cumpriu fielmente ao longo de 46 anos.

A evangelização era sua paixão (“igreja que não evangeliza, não cresce”, dizia) e a oração era seu estilo de vida. Ajudou a plantar cinco igrejas na região de Duque de Caxias, RJ, onde morava desde 1982. A última na qual ele exerceu seu ministério foi a IPI em Jacatirão (de 2003 a 2025), que também ajudou a fundar.

Assim como Jesus, Moysés foi carpinteiro e ensinou o ofício aos seus dois filhos, que trabalhavam com ele. Foi casado por 74 anos com Judite da Silva Gonçalves, o grande amor de sua vida, que faleceu aos 92 anos de idade. Tiveram 8 filhos, 13 netos e 18 bisnetos.

A seguir, compartilharmos o emocionante texto de homenagem do seu neto, Matheus Gonçalves Ferreira, para “O Estandarte”.

 

**

 

Moysés Mielgo Gonçalves: andou com Deus e já não era, porque Deus o tomou para si

Foram 100 anos e 10 meses de vida. Nasceu em 1924, antes do cinema falado, da televisão, da 2ª Guerra Mundial, da bomba atômica, dos primeiros computadores, da Seleção vencer a primeira Copa do Mundo, do rock’n’roll, da ida do homem ao espaço, da Guerra Fria, da queda do Muro de Berlim, do VHS, da internet, do telefone celular, dos CDs e DVDs, da música digital e do streaming. Era um homem de outro tempo. Em um século, viveu um período de inovações e transformações sem precedentes na história.

Seu avô e seu pai eram espanhóis que vieram para o Brasil no final do século XIX e se instalaram no interior do estado do Rio de Janeiro. Começou a trabalhar na lavoura aos 8 anos e, mais tarde, adotou a marcenaria como profissão, que exerceu por quase toda a vida. Em 1948, casou-se com minha avó Judith, com quem permaneceu por 74 anos, união que gerou 8 filhos, 13 netos e 18 bisnetos.

Amava tocar violão, adorava reunir a família no Natal, era muito conversador e gostava de contar histórias. Tinha uma memória invejável e, poucos anos antes de falecer, acompanhava com grande interesse tudo o que acontecia no Brasil e no mundo. Era curioso ver aquele senhor de 1924 manejando com destreza o controle remoto da smart TV para se atualizar assistindo à TV a cabo ou a vídeos no YouTube.

Sua saúde era um capítulo à parte. Impressionava (e preocupava) a todos ao sair para comprar pão ou gás, andar de bicicleta, subir de escada no telhado, varrer o quintal e ser totalmente ativo com mais de 90 anos. Passou por fraturas e cirurgias ortopédicas em idade avançada, mas se recuperou completamente. Sobreviveu a pneumonias e à Covid, mesmo com o pulmão sempre debilitado em razão dos anos de trabalho exposto ao pó da madeira.

Era um homem íntegro, trabalhador, de princípios morais rígidos e severo na educação dos filhos. Não era muito de expressar seus sentimentos — algo comum para sua geração —, mas amava a esposa, os filhos, os netos e os bisnetos com atitudes e cuidado. Quando crianças, víamos aquele senhor trabalhando o dia todo na marcenaria que ficava no quintal de casa, carregando grandes toras de madeira e móveis, quase sempre coberto de serragem. Em muitos outros momentos, arrumava-se com esmero, vestindo calça social, camisa de botão e levando a Bíblia na mão. Raramente faltava a um compromisso na igreja. Foi presbítero atuante na Igreja Presbiteriana Independente do Brasil por quase toda a vida. Evangelizava distribuindo folhetos nas ruas, mas principalmente com seu testemunho de vida.

Comemoração em família do centenário do Presb. Moysés em 26/10/2024.

Acima de tudo, meu avô era um “cidadão do Céu”. Desde criança, professara sua fé em Cristo Jesus e foi fiel por toda a vida. A livre adaptação de Gênesis 5.24, no início deste texto, retrata um sentimento e uma percepção de toda a sua família e amigos: meu avô andou com Deus. Muito mais do que qualquer palavra, o seu exemplo de vida nos impacta e nos inspira a seguir o mesmo caminho. Ele não nos deixou bens materiais, mas deixou a maior herança que alguém pode receber.

Seu hino predileto, O Rosto de Cristo, falava sobre o privilégio que os contemporâneos de Jesus tiveram em ver o seu rosto e sentir suas mãos. A última estrofe diz:

“Ah, um dia também eu o verei

Eu o verei face a face

Sim, eu o verei face a face

E assim eu creio pela minha fé.”

O hino que soava como um anseio hoje se tornou realidade. Hoje, meu avô, um homem de fé, realiza o desejo de uma vida inteira e finalmente tem o privilégio de estar face a face com o seu Deus.

 

Por Matheus Gonçalves Ferreira

Compartilhe este conteúdo. 

Respostas de 6

  1. O pouco que convivi com esse amado irmão foi suficiente para aprender mais de Deus e te-lô como exemplo de fé e amor a Cristo.

    Em breve estaremos todos juntos em nome de Jesus 🙏🏻

  2. Quando eu ainda não professava a fé em Jesus, via meu tio em algum canto da casa falando “sozinho” segurando um livro. Achava estranho, hoje entendo que ele orava por todos nós.

  3. A vida dele foi seu maior testemunho! Homem íntegro e fiel a Deus! Sua vida inspirou e continuará a inspirar muitos que conviveram com ele.

  4. Sou de 26 de outubro também. Que o Senhor também me dê essa graça de servi-Lo por muitas décadas com saúde. Que a descendência de Presb. Moyses ande pelo lastro que ele deixou.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Conteúdo Gratuito

Notícias Relacionadas

Categorias

Seções

Artigos por Edições

Artigos mais populares

Não Existem mais Posts para Exibir
Política de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos fornecer a melhor experiência possível para o usuário. As informações dos cookies são armazenadas no seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajuda a nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.