Fé para o dia a dia

Os ovos da serpente

Serpentes botam e se multiplicam. Serpentes são símbolos. Serpentes podem ser metáforas. Serpentes podem conter um sentido figurado. Alegorias.

Serpente pode simbolizar o pecado. Rebelião contra Deus. A serpente é figura de destaque na narrativa em Gênesis 3. 

A serpente desempenha papel importante no equilíbrio dos ecossistemas, regulando a população de pequenos mamíferos. A serpente, na mitologia egípcia, era uma deusa protetora dos faraós. Os maias e astecas a cultuavam como divindade. Na mitologia grega, era ligada a um deus da cura, Esculápio. 

No folclore brasileiro, ela é de fogo e protege florestas. No pensamento cristão, a serpente tem má reputação por convencer Adão e Eva a comer do fruto proibido e assim trazerem o pecado para o mundo. 

A serpente descrita no livro das origens é sagaz, astuta, capaz de seduzir para o conhecimento do bem e do mal. Ao se verem despidos, o que antes não sabiam, Eva e o companheiro envergonharam-se, passando a saber o que é nudez, mas despindo-se também do caráter e da dignidade, que irão produzir uma perniciosidade genética da constituição humana, que contamina e pode matar espiritualmente, como salário dos malfeitos (Rm 6.23), rompendo o relacionamento com Deus e causando eterna separação, a menos que no futuro busque a redenção e a salvação. Vejam como exegese e hermenêutica são interessantes: “um só pecador destrói muitas coisas boas” (Ec 9.18). É como se o pecado passasse a fazer parte do nosso código genético, originalmente pecador.

A serpente é um ofídio. São mais de três mil espécies no mundo. Em São Paulo, há uma Ilha das Cobras, no litoral sul, com grande número delas. Possuem importância ecológica, porque eliminam roedores. 

É usada como símbolo. Na medicina, representa Esculápio, médico grego, com um cajado onde uma serpente se enrola, para identificar um deus do Olimpo com capacidade para curar todos os tipos de doença. Como a serpente troca de pele, substituindo as escamas, adquire simbolicamente a vida e o vigor. O Brasil enviou tropas, a Força Expedicionária Brasileira (FEB), para juntar-se aos aliados contra o nazismo na segunda guerra mundial. Seu símbolo, ilustrado, era uma cobra fumando.

Raça de víboras  

A serpente não aparece somente no Gênesis. Bem mais adiante, vemos João Batista referindo-se aos fariseus e saduceus como “raça de víboras”. 

Há mais momentos bíblicos significativos envolvendo cobras. Moisés, na retirada do Egito, viu o povo que fora cativo revoltar-se contra ele, reclamando por receber apenas o maná. O Senhor se desagrada com a rebeldia e manda para o deserto serpentes mortíferas. O povo se desespera, mas admite que pecou e suplica a Moisés para interferir junto a Deus. Ele ora e recebe instruções: construir uma serpente de bronze e colocá-la sobre uma haste. Quem tivesse sido picado poderia olhar para a cobra e ser curado (Nm 21). Há uma extraordinária conexão aqui: no evangelho de João (3.14), vemos que o autor, ao citar a narrativa da serpente no deserto, prefere usar o verbo “levantar” para lembrar a fala de Deus para Moisés: na cruz, Jesus também seria “levantado”. É preciso contemplar a cruz.

O serpentário humano 

Temos registro de Paulo sendo levado como prisioneiro para César, a bordo de um navio que naufragou, conseguindo salvar-se na ilha de Malta. Com frio, fez uma fogueira de gravetos secos, onde uma víbora se escondia e, diante do calor do fogo, picou a mão de Paulo (At 28:3).

Exegese e hermenêutica nos ajudam entender a tudo isso. Na nossa vida, ouvimos pessoas falarem uma das outras como se fossem “cobras”, de tanto que são ruins. 

No ano que se inicia, percebemos mais uma vez que o mundo está propenso ao pecado, com ações e pensamentos globalizados, práticas humanamente lamentáveis, convulsões, guerras, etc. 

Novas espécies de serpentes sugiram. Possuem variados portes e agem maliciosamente, razão pela qual sabemos muito bem quem é o pai da mentira. Essas cobras usam artifícios, embustes e falsidades, a tal ponto que muitas coisas são feitas de modo plenamente consciente, usando a razão para ocultar pecados terríveis, como se pudessem ser legitimados. O oposto do bem se alastra com perigos e catástrofes, a tal ponto que nossas bênçãos apostólicas se encerram com o desejo que alcancem “toda a face da terra”. A terra precisa deixar-se salgar.

O serpentário humano é gigantesco. Cabe-nos repelir, não se deixar morder nem quando as cobras venenosas se aproximam. Pecado tem veneno na sua fórmula sinistra e o poderoso soro antiofídico. O cristão pode neutralizá-lo. Nosso Salvador nos dá, a todo tempo, a salvadora condição protetora.

 

Percival de Souza, membro da 1ª IPI de São Paulo, SP, e jornalista

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