Esquecidas, Mas Relevantes

Elas não se deixaram limitar pelas convenções do seu tempo e ajudaram a construir a história da IPI do Brasil

Deus orienta seu povo a manter viva a memória dos grandes feitos realizados por ele a fim de alimentar a fidelidade e a fé ao longo da caminhada. Conosco, não é diferente. É fundamental manter viva em nossos corações a memória da ação de Deus na vida da IPI do Brasil através de homens e mulheres que ele levanta para realizar sua obra. Como disse o Rev. Gerson Correia de Lacerda, em O Estandarte (2003), “sem memória não há identidade”. Será que temos feito isso adequadamente?

Em 31 de julho de 1903, sete pastores e quinze presbíteros se retiraram da reunião do Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil para darem origem à Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Obviamente, esses homens não organizaram a nova instituição eclesiástica sozinhos; tiveram o apoio dos fiéis de suas igrejas e, principalmente, de suas esposas. Entretanto, quase nada se sabe a respeito delas. Em artigo publicado em O Estandarte de julho de 2003 intitulado “Mulheres ‘mães’ da IPI do Brasil – Figuras sem Recordação”, escrito pelo Rev. Geraldo Matias Ferreira, são mencionados os nomes de algumas das esposas dos pastores e presbíteros fundadores da IPI do Brasil. Afirma o autor: 

“É pena que a igreja tenha se esquecido (grifo meu) de registrar também os dados biográficos das mães da IPI do Brasil. Os únicos dados que temos de cada uma delas é só o de esposa, com poucas exceções”.

 

Lucilêde, Albina, Odette, Cesarina…

O Estandarte de junho de 2000 noticiou a ordenação da primeira pastora da IPI do Brasil, em 13 de maio daquele ano, pelo Presbitério Distrito Federal: a Rev. Lucilêde Pereira, juntamente com seu esposo também ordenado na mesma ocasião. Atualmente, ela não exerce o pastorado na instituição.

Por muitos anos a senhora Albina Pires de Campos foi considerada a primeira mulher eleita diaconisa na IPI do Brasil, em 08 de junho de 1934 e ordenada em 29 de julho do mesmo ano na 1ª IPI de São Paulo, porém praticamente não há registros sobre essa mulher na história da igreja. Em O Estandarte de julho de 2003, Livio Euler de Araujo (contemporâneo de Albina) publicou um artigo com algumas informações a respeito dessa mulher que foi eleita presidente da Sociedade Auxiliadora de Senhoras da 1ª IPI de São Paulo, em 1921. Além da sua intensa participação em várias áreas da igreja, “outra característica marcante de sua personalidade foi sua ação permanente na defesa dos direitos da mulher, como o direito ao voto”. Certamente se tratava de uma mulher com habilidades e talentos reconhecidos pela comunidade que a elegeu, e que a considerava capaz de exercer o ofício do diaconato.

Muito embora em O Estandarte conste a Diaconisa Albina como a primeira a exercer o ofício ordenado, em artigo do Rev. Gerson Correia de Lacerda de junho de 2004 são mencionados documentos que comprovam a ordenação da diaconisa Odette Vieira Reis, em 04 de março de 1934, na IPI de Marambaia, hoje Bandeira do Sul, MG.  Ao final do artigo, pergunta o autor: “será que, nesse Brasil imenso, sem que tivesse havido divulgação, porventura alguma igreja não teria eleita e ordenada alguma diaconisa antes de D. Odette…?”

Há de se mencionar o nome de Cesarina Xavier Pinto, a primeira mulher a se formar em teologia no Brasil, tendo defendido tese sobre o trabalho feminino evangélico, em fevereiro de 1939. Ela foi secretária da Federação de Senhoras da IPI do Brasil e desempenhou importante papel no desenvolvimento do trabalho leigo da denominação. Numa época em que era incomum uma mulher viajar sozinha (ou mesmo acompanhada de outros líderes homens), ela percorria todo o país, pregando em praças públicas e cadeias, dando aulas em escolas dominicais, dirigindo reuniões, visitando e divulgando o trabalho da federação.

Como essas, muitas outras mulheres não se deixaram limitar pelas convenções de seu tempo, nem pela legislação da igreja. Foram responsáveis pela abertura de novos campos, pelo sustento financeiro de missionários, e atuaram em regiões onde homens não podiam ou não tinham interesse para o exercício ministerial. De fato, realizaram o ministério pastoral, embora sem o devido reconhecimento, que só viria em janeiro de 1999.

Ao pensar a identidade Presbiteriana Independente é fundamental trazer à memória todas as pessoas, mulheres e homens, que foram usadas pelo Senhor para edificar a IPI do Brasil. Que possamos ser mais zelosos com aqueles e aquelas que têm honrado ao Senhor desde nossas igrejas locais até à Assembleia Geral para que não nos desviemos dos propósitos do Senhor, o verdadeiro fundador da nossa amada igreja.

Foto de Presba. Eleni Mender Rangel

Presba. Eleni Mender Rangel

Psicóloga, Presbítera da 3ª IPI de Santo André/SP

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