Entre telas e afetos: o impacto das telas no cotidiano familiar

Tenho buscado, ao longo desta coluna, conversar com você sobre temas importantes relacionados às infâncias em nossas igrejas. 

Tenho buscado, ao longo desta coluna, conversar com você sobre temas importantes relacionados às infâncias em nossas igrejas. 

Neste mês, ao abraçarmos o tema da família como foco da edição, trago uma reflexão necessária sobre o impacto das telas — especialmente dos smartphones — em nossa rotina familiar.

Sou mãe de duas meninas, uma de 10 anos e outra de 2, e vivo diariamente o desafio de administrar, controlar e equilibrar o uso dessas tecnologias dentro de casa. Em muitos momentos, percebo que falho, e os desafios se tornam ainda maiores quando não há um esforço coletivo para compreender os efeitos que esse uso excessivo tem causado na vida das nossas famílias. Por isso, é essencial que, como comunidade, também façamos essa reflexão e nos apoiemos mutuamente.

Estudos recentes, como os apresentados no livro “A Geração Ansiosa”, de Jonathan Haidt, mostram que o tempo excessivo diante das telas tem afetado profundamente a saúde emocional e o desenvolvimento social de crianças e adolescentes. 

O autor apresenta um cenário preocupante: a explosão no uso de smartphones, especialmente a partir de 2010, está diretamente relacionada ao aumento de transtornos de saúde mental nessa faixa etária. 

Segundo Haidt, esse é o principal fator de transformação comportamental de uma geração. Os dados indicam que os níveis de ansiedade, depressão e automutilação aumentaram significativamente justamente no período em que os smartphones se popularizaram e as redes sociais passaram a ocupar espaço central na rotina dos mais jovens.

Talvez essa realidade pareça distante da sua casa — afinal, muitos de nós acreditamos ter algum controle sobre o uso das telas. Mas uma pergunta permanece necessária: como as telas têm impactado a rotina da sua família?

Quando as telas tomam o lugar dos momentos de convivência, o espaço do brincar livre, das interações sociais e dos vínculos familiares vai sendo silenciosamente reduzido. E isso não acontece de uma vez. Aos poucos, o que era exceção se torna hábito. As crianças deixam de brincar e passam a buscar refúgio nos vídeos. Os pais, muitas vezes cansados, também recorrem às telas como forma de distração ou alívio — e, assim, a conexão real vai sendo substituída por uma presença parcial. 

Até mesmo nos cultos, é cada vez mais comum vermos crianças com dispositivos nas mãos, usados para “acalmar” ou entreter.

Sei que ao ler estas linhas é possível sentir certa ansiedade — afinal, até nós, adultos, enfrentamos dificuldades para equilibrar o uso dessas tecnologias. 

A boa notícia é que pequenas mudanças no cotidiano podem fazer uma grande diferença. Não se trata de eliminar os celulares da vida, mas de recuperar, com intencionalidade, o espaço da presença, do brincar e do relacionamento real.

Um bom exemplo de como pequenas mudanças podem gerar grandes impactos já pode ser observado em espaços institucionais. 

Em janeiro de 2025, foi sancionada a Lei nº 15.100/2025, que restringe o uso de celulares nas escolas públicas e privadas de educação básica em todo o Brasil. 

Os resultados já são percebidos até mesmo pelas próprias crianças: há melhora na concentração e aumento das interações, principalmente nos momentos de recreio. Onde antes havia silêncio e telas, hoje há barulho, brincadeiras e novas conexões.

Essa é uma jornada possível — e ela pode começar hoje, com gestos simples: desligar o celular durante as refeições, reservar um tempo diário para brincar, conversar ou orar juntos, sem as interrupções das telas, criar momentos sem distrações, onde o amor possa ser vivido e a fé compartilhada.

Como assim Deus nos ensinou em Deuteronômio 6.6-7: “Todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar”. 

Nosso Pai nos ensina a integrar o seu ensinamento em nosso cotidiano, destacando a importância de estarmos presentes na vida de nossas crianças. 

Que o mês da família nos inspire a redescobrir o valor de estarmos juntos — com menos distrações, mais presença, mais afeto e mais fé vivida no dia a dia.

Foto de Rev. Tabta Rosa de Oliveira

Rev. Tabta Rosa de Oliveira

Pastora da IPI Morumbi, Sorocaba, SP, e coordenadora Nacional de Crianças da IPI do Brasil

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