Encontros de discernimento

Tensões e lições dos primeiros dias do 27° Conselho Geral da CMIR

A Rev. Tabta Rosa de Oliveira compartilha a seguir seus apreensões e aprendizados nos primeiros dias do 27° Conselho Geral da Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas (CMIR ou WCRC – sigla em inglês), que acontece até a próxima quinta-feira, dia 23/10, em Chiang Mai, Tailândia. Ela e o Rev. Wellington Camargo, Secretário Geral da AG-IPIB, representam a IPI do Brasil neste evento histórico e de abrangência global. Outro brasileiro que está no evento é o Rev. Clayton Leal da Silva, pastor da IPI Central de Botucatu, SP, que encerra o seu mandato como membro do Comitê Executivo (pela legislação atual só pode exercer um mandato e se reconduzido uma vez).


 

DIA 15/10: MARCADO PELA ESCUTA

O segundo dia (15/10) foi marcado pela escuta, principalmente por ouvir histórias sobre e com mulheres em seus desafios ministeriais, suas lutas por serem reconhecidas em seus chamados. Também ouvi testemunhos de pessoas com deficiência e de famílias com crianças com deficiência. Em resumo, percebi quantos desafios ainda existem na inclusão desses grupos nas igrejas. Nossas comunidades de fé não estão preparadas para acolher, receber, empoderar e, muito menos, escutar sobre suas experiências com Deus. Esse tema me pareceu desafiador em todas as realidades presentes no workshop. Há movimentos estruturais ligados a normas e processos, mas pouco se faz no sentido de conhecer as realidades e acolher esses corpos.

Sessões de decisão

Em um dos workshops do dia, aprendi sobre a metodologia que será aplicada às sessões decisivas. O processo contempla escuta, discussão e aprovação das pautas que serão apresentadas, em momentos distintos. A primeira parte é a escuta: na sessão principal, com todas as delegações, serão apresentados os temas que depois serão discutidos em grupos menores. O segundo momento é o da interlocução: os grupos de discernimento, formados por delegados divididos em salas diferentes, discutirão os relatórios apresentados na sessão de leitura. Por fim, as sessões de decisão visam o alinhamento do grupo, buscando que as resoluções reflitam a paz e o entendimento do tema proposto.

Imagino que não será fácil passar por esse processo, mas, se estivermos dispostos a ouvir o Espírito Santo, continuaremos trazendo à tona a voz do Senhor. Também sei que não será simples, pois, em todo lugar, o inimigo está à espreita e se revela em falas, disputas políticas e no individualismo de pessoas e grupos.

Termino o dia com certa incerteza sobre como se dará o processo em meio a uma tensão velada que perpassa os grupos na plenária. Oro para que o Senhor nos ajude a discernir tua vontade em todo o tempo.

 

DIA 16/10: NA BUSCA POR DISCERNIMENTO 

Comecei o terceiro dia refletindo sobre os processos que enfrentaríamos e sobre como seriam apresentadas as tensões em torno dos temas mais sensíveis. Já sabíamos que o desafio não seria pequeno; seria um dia de aprendizados e aplicação do processo, de escutas e discernimento.

“Perseverar em nosso testemunho” 

Durante a manhã e à tarde, ouvimos a leitura dos relatórios da Presidente, do Secretário-Geral e das comissões de Jovens e de Mulheres. Em cada fala, percebia-se o mesmo chamado: “Perseverar em nosso testemunho”, mesmo diante de um mundo marcado por guerras, desigualdades e um cansaço coletivo.

O relatório da Presidente lembrou-nos que perseverar não é apenas suportar, mas resistir com fé ativa; é um convite a permanecermos firmes sob o peso da dor do mundo, transformando-a em esperança. Já o Secretário-Geral, ao recontar a trajetória de 150 anos da Comunhão, reforçou que não há lugar para o silêncio diante da injustiça.

 

Perseverar não é apenas suportar, mas resistir com fé ativa. É um convite a permanecermos firmes sob o peso da dor do mundo, transformando-a em esperança.

 

Ordenação feminina: não é exceção, mas vocação

Rev. Tabta lê relatório de seu grupo de trabalho na 27° Conselho Geral da CMIR.

Foi nesta primeira sessão que, juntamente com três outras irmãs, apresentamos na plenária o relatório da mensagem do Grupo de Mulheres. Reforçamos que, embora 83% das igrejas do CMIR permitam a ordenação feminina, apenas 33% dos pastores ordenados são mulheres. Reafirmamos no texto que o ministério das mulheres não é exceção; é vocação divina. Recomendamos ao Conselho das Igrejas Reformadas que promova uma cultura de acolhimento, formação e irmandade entre as mulheres.

Jovens demais para estarem tão cansados

Os jovens apresentaram também, durante a tarde, um documento que falava sobre fadiga, isolamento e cansaço espiritual, dizendo que estão “jovens demais para estarem tão cansados”. Denunciaram a glorificação do excesso de trabalho, o impacto do capitalismo na vida espiritual e a falta de espaços reais de descanso e partilha durante o evento. Falaram com sinceridade sobre saúde mental, vulnerabilidade e a necessidade de uma igreja que acolha e escute.

Encontros de discernimento 

No fim do dia, participamos do nosso primeiro grupo de discernimento. Eu estava apreensiva sobre como seriam as discussões, temendo que as tensões explodissem em desacordos. Mas, para minha surpresa, o ambiente foi de respeito e escuta. O trabalho do grupo era revisar as recomendações dos relatórios, apoiar, ajustar ou propor modificações. Fizemos pequenas alterações de linguagem e, em alguns casos, solicitamos revisões para maior clareza.

O meu grupo era composto por representantes da África, Coreia do Sul, Estados Unidos, Índia, Irlanda e Malawi; e cada um trouxe suas perspectivas e dores. Questões como a realidade financeira das igrejas e a igualdade de gênero dominaram as discussões. Em meio às diferenças culturais e perspectivas distintas, percebi um esforço genuíno por unidade. Saí grata a Deus por este primeiro dia de encontros de discernimento.

Responsabilidade e beleza

Ao encerrar o cronograma, senti a responsabilidade e a beleza deste processo. Há tensões veladas, há inquietações espirituais e políticas, mas também há sinais de que o Espírito de Deus sopra entre nós. Oro para que o Senhor continue nos guiando, dando-nos discernimento para entender a Sua vontade e coragem para sermos uma Comunhão em reconstrução, fiel ao chamado de ser testemunha viva do Evangelho.

 

Foto de Revª Tabta Rosa de Oliveira

Revª Tabta Rosa de Oliveira

Pastora da IPI Morumbi, Sorocaba, SP, e Coordenadora Nacional de Crianças da IPI do Brasil

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