Diaconia: o privilégio de servir como Jesus

Nesta edição, cujo tema é “Servindo à Igreja que serve”, conversamos com a Rev. Ieda Cristina Rebouças, secretária nacional de Ação Social e Diaconia da IPI do Brasil.

Nesta edição, cujo tema é “Servindo à Igreja que serve”, conversamos com a Rev. Ieda Cristina Rebouças, secretária nacional de Ação Social e Diaconia da IPI do Brasil. Com longa trajetória no ministério pastoral e na atuação social, ela reflete sobre o verdadeiro significado da diaconia e destaca como o serviço cristão está no coração da missão da Igreja. A entrevista convida à reflexão sobre como cada cristão e cada igreja podem ser instrumentos de cuidado, acolhimento e transformação, servindo a Deus ao servir aos que mais necessitam.

Como você explica, para alguém que nunca ouviu falar em diaconia, o que isso significa na prática do dia a dia?

A pergunta é: “como a dor do outro afeta a minha vida e o que eu posso fazer para amenizá-la por meio de ações, atitudes e gestos?”. É se perguntar: “Eu posso ser resposta na vida dos que sofrem?”. É servir ao próximo em suas dificuldades, dores e mazelas; importar-se com a dor do nosso semelhante em todas as suas áreas.

Você acha que as pessoas veem hoje a ação social mais como “obrigação cristã” do que como “privilégio de servir”?

Infelizmente, muitos cristãos ainda não entenderam o que Jesus ensina em Marcos 10.35-45. Esse texto nos mostra, de forma clara, que Jesus nos ensinou sobre o privilégio de servir. Jesus é o nosso exemplo de serviço e de diaconia. Olhando para Ele, entendemos que não se trata de obrigação, mas de cumprir aquilo que Jesus fez e nos ensinou como seguidores. A ação social da Igreja é um chamado para todos e todas que pertencem ao Reino de Jesus. Não há como sermos servos de Jesus, o Cristo Encarnado, sem nos colocarmos a serviço do próximo. Uma diaconia vivida na vertical (com Deus) e na horizontal (com o próximo) é um privilégio para os servos e servas de Jesus.

Existe alguma diferença entre a assistência social do governo e a ação social da Igreja? Qual é o “tempero especial” que a Igreja oferece?

A assistência social oferecida pelo governo e por outras instituições é uma diaconia que se preocupa com o social, com o visível, buscando resolver apenas as necessidades do corpo. Já a ação diaconal da Igreja se aplica ao que diz o Pacto de Lausanne: “O evangelho todo, para o homem todo e para todos os homens”. A diaconia exercida pela Igreja leva mais do que alimentos, cursos, educação e acolhimento. Ela leva Jesus, o Cristo Encarnado, por meio de atitudes e ações que alcançam o coração e a alma daqueles que sofrem. A diaconia da Igreja vai além do visível. Ela toca a dor e as feridas daqueles que não são vistos nem ouvidos, daqueles que têm a alma abatida e angustiada, daqueles que precisam de uma palavra de renovo e restauração. A diaconia da Igreja visa restaurar o ser humano em sua totalidade e levá-lo a conhecer o único que tem todo poder para transformar as circunstâncias: Jesus Cristo! Ele é o “tempero especial”. Ele é a razão, a vida, a restauração, a reconciliação e aquilo que nos impulsiona ao encontro do outro.

Como uma igreja pequena, com poucos recursos, pode fazer a diferença na sua comunidade?

Observando ao redor, onde está inserida, e percebendo as necessidades da comunidade. Orando e pedindo a direção do Espírito Santo para orientar o trabalho a ser desenvolvido pela igreja local. Quando a igreja entende que sempre há alguém que sofre, ela se move a buscar uma maneira de ajudar. Diaconia é “quando a dor do outro importa”.
Não importa o tamanho da igreja. O que move uma igreja local a fazer diaconia é a dor dos que sofrem ao seu redor. O que impulsiona a igreja é o desejo de cumprir aquilo que o Senhor Jesus nos ensinou em Mateus 20.28: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos.”

A “escuta ativa” é mencionada como forma de servir. Como preparar pessoas para esse tipo de ministério mais sutil?

Investindo nas pessoas que atuam nesse ministério, para que possam “ouvir” melhor aqueles que estão em sofrimento. Orando e buscando, no Espírito Santo, direção em tudo o que for feito. A igreja local tem a responsabilidade de capacitar essas pessoas, oferecendo formação, cursos, acompanhamento e assessoria, para que os servos e servas possam desenvolver o trabalho com excelência e alcançar aqueles que sofrem em silêncio ou que estão perdidos e desesperançosos.

Dá para identificar se um projeto realmente está transformando vidas ou apenas “apagando incêndios”?

Sim. Percebemos isso quando o projeto não gera transformação na pessoa nem no ambiente em que ela está inserida. Quando o projeto não avança para novos horizontes e permanece com o mesmo objetivo inicial, sem se renovar. Os projetos de diaconia precisam se expandir, atingir cada vez mais pessoas e se diversificar, conforme as demandas da comunidade.

O Rev. Adiel Tito de Figueiredo sonhava com uma igreja que “sofra as dores do mundo”. Como uma instituição pode, literalmente, “sofrer” com os necessitados, sem se tornar apenas emotiva?

Olhando para as mazelas e dores do próximo. Como Paulo nos ensina: “Chorai com os que choram.” Quando a Igreja entende sua responsabilidade de olhar para o outro e suas dores, ela passa a “sofrer as dores do mundo”, e isso gera inquietação, movendo-a a buscar transformação daquela realidade. A Igreja não permanece inerte, nem de braços cruzados, como mera espectadora da história. Ela se torna agente da história, provocando transformação no lugar onde está inserida.

Se a senhora pudesse implementar uma mudança estrutural na IPI do Brasil, relacionada à ação social, qual seria?

Levar mais informação à Igreja local sobre o que é diaconia e ação social em sua totalidade. Promover informação para gerar uma mudança de mentalidade. Mostrar que a ação social e a diaconia vão muito além de trabalhos pontuais. É preciso intensificar a conscientização de que ela pode, sim, transformar realidades de quem sofre. Acredito que oferecer mais informação e desafiar as igrejas locais a saírem da “caixinha”, olhando para os que sofrem ao seu redor, é essencial. Não importa o tamanho, a renda ou os recursos da igreja,; afinal, o mais importante nós já temos: o Diácono Jesus Cristo, que nos garantiu que atenderá nossas orações!

Qual é sua mensagem sobre a frase: “A missão da Igreja é servir a Deus, servindo às pessoas”?

Jesus, em seus ensinamentos, deixou claro que, quando servimos aos pequeninos, aos famintos, doentes, encarcerados, abatidos e marginalizados, estamos servindo ao próprio Jesus. Em Mateus 25.40, Ele diz claramente: “Sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” Servir ao próximo é ver Jesus em suas diversas faces. Servindo às pessoas, estou cumprindo a missão que Jesus nos ensinou e deixou como exemplo: “O maior entre vocês sirva”. Quando olho para o próximo e digo: “Eu vejo Jesus em cada ser humano” – especialmente naquele que está sentado à beira do caminho, sem forças para prosseguir -, eu posso ser instrumento para mudar sua realidade. Nós podemos, sim, transformar a vida dos sofredores que nos cercam.

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