Acabamos de celebrar o aniversário de nossa igreja amada. Ao refletir sobre quem somos, é essencial lembrar não apenas das nossas raízes históricas ou confissões doutrinárias, mas também dos sinais visíveis que expressam nossa fé. Nesta coluna, que se dedica a conversar sobre o tema das infâncias com/nas igrejas, abro espaço para dialogar sobre um destes sinais da graça do Senhor: o batismo infantil.
Infância: terreno fértil para a fé
Como já refletimos em momentos anteriores neste espaço, cremos que Deus se revela também às crianças, falando, escutando e chamando-as pelo nome. A infância não é um tempo espiritual neutro ou de espera, mas um terreno fértil onde a fé pode florescer com sensibilidade e profundidade. É nesse contexto que o batismo infantil ganha ainda mais sentido: longe de ser um gesto vazio, ele é uma afirmação visível de que as crianças, desde o início, fazem parte do povo de Deus. A graça alcança-as desde cedo, antes mesmo que possam expressar racionalmente sua fé.
Contudo, em muitas igrejas, a infância ainda é vista como uma fase de espera, uma espécie de “preparo”, em que a criança é percebida apenas como um potencial crente, e não como alguém que já caminha com o Pai. O problema é que tal percepção reduz a criança a um ser “espiritualmente incompleto”, esperando atingir a idade “certa” para ser levada a sério. No entanto, a fé infantil – embora diferente da fé adulta em linguagem e forma – é igualmente genuína. Crianças oram com profundidade, fazem perguntas teológicas ousadas, reconhecem o cuidado de Deus em detalhes do cotidiano e demonstram confiança plena no amor do Senhor. Ignorar essas manifestações é fechar os olhos para a presença viva do Reino de Deus já atuando por meio das crianças. Como Jesus afirmou com clareza: “delas é o Reino dos Céus”, e não apenas “será”.
Batizar uma criança não é apenas um ato de consagração ou apresentação, mas uma confissão da fé da comunidade, que reconhece que a salvação é obra de Deus e não depende da capacidade do ser humano de compreendê-la ou responder a ela com plena consciência. Como afirma Elias Dantas Filho em “Filhos e Filhas da Promessa”, “o batismo não aponta e dá testemunho de uma salvação que aconteceu somente quando eu cri. Ele dá testemunho de uma salvação que Deus trouxe à existência quando ele agiu por e para nós, cumprindo sua eleição graciosa”.

Sinal de inclusão
Em nossa identidade presbiteriana independente, sustentamos que os nossos filhos são incluídos na aliança, assim como no Antigo Testamento os filhos de Israel eram incluídos por meio da circuncisão. O batismo é, portanto, o sinal dessa inclusão – não como garantia mágica de salvação, mas como marca do compromisso de Deus e do chamado à resposta de fé que será nutrida ao longo da vida da criança, em meio à comunidade.
Batizar uma criança é também assumir uma responsabilidade coletiva: a de nutrir, discipular e amar essa criança como parte do corpo. É um ato de fé da igreja e da família, que reconhecem a atuação de Deus mesmo antes da resposta racional e comprometem-se a ensinar, acompanhar e acolher a criança em seu processo de crescimento espiritual. Este movimento de envolvimento dos pais e o compromisso da comunidade são perceptíveis aos pequenos, ao ponto de as crianças maiores que ainda não são batizadas, pedirem aos pais este ato de inclusão.
Por isso, ao refletirmos sobre o batismo infantil como parte de nossa identidade presbiteriana, somos desafiados a lembrar que cada criança batizada diante da comunidade é um chamado à fidelidade. A fidelidade de Deus, que nos alcança pela graça; e a fidelidade da Igreja, que se compromete a caminhar com essa criança, nutrindo sua fé com cuidado, palavra e testemunho.
O batismo infantil, portanto, não é apenas uma tradição, é uma expressão viva da esperança de que Deus age desde o início da vida, e de que nossa missão, como Igreja, é acolher, formar e amar os pequenos como parte plena do povo da aliança. Que sejamos comunidades que honrem essa marca com alegria e responsabilidade, conscientes de que ao acolhermos as crianças, acolhemos também o próprio Cristo entre nós.







