Uma série de pesquisas recentes no Canadá, Reino Unido e Estados Unidos vêm revelando algo que parecia improvável há poucos anos: jovens entre 18 e 24 anos — a chamada Geração Z — estão retomando a busca por espiritualidade, frequentando cultos presenciais e até liderando iniciativas de plantação de igrejas. Esse movimento vem sendo chamado de “revival silencioso” (quiet revival).
De acordo com reportagem exibida pela CTV News no Canadá, a igreja anglicana St. Paul’s Bloor Street, localizada no centro de Toronto, viu sua presença jovem explodir após a pandemia: o grupo cresceu de 45 para quase 500 jovens adultos em poucos anos. Segundo líderes locais, quando a igreja reabriu após as restrições da COVID-19, “o maior grupo demográfico era a Geração Z”.
A reportagem mostra ainda que, buscando alcançar novos jovens, a St. Paul’s “replantou” uma igreja que estava fechada há quase uma década — St. George’s Grange Park, também em Toronto. Em apenas um ano, a nova congregação ultrapassou 100 pessoas em culto.
A St. Paul’s “replantou” uma igreja que estava fechada há quase uma década!
Esse movimento de replanting é cada vez mais comum entre igrejas anglicanas urbanas: quando uma congregação não consegue mais se sustentar, ela é reorganizada e relançada com foco em novos públicos, especialmente jovens adultos. No caso de St. Paul’s e St. George’s, o perfil do corpo pastoral e da equipe de ministério (35 pessoas, em sua maioria jovens e diversos) revela uma estratégia intencional para se conectar com essa geração.
O que explica esse retorno?
A Sociedade Bíblica Britânica, em sua pesquisa The Quiet Revival (2024), identificou um aumento expressivo na crença em Deus entre jovens britânicos — de 21% em 2021 para 45% em 2024.
Já o novo estudo da Barna Group (2024) aponta que os jovens adultos são hoje o grupo que mais voltou a frequentar a igreja nos Estados Unidos e no Canadá.
Entre os motivos mais citados pelos jovens entrevistados pela CTV News estão:
- Busca de sentido e propósito (“O que estou fazendo aqui?”).
- Solidão e ansiedade pós-pandemia, especialmente agravadas por redes sociais.
- Desejo de comunidade real, não apenas conexões digitais.
Uma das entrevistadas, Bianca Quilliam, afirma que as redes sociais criam a ilusão de conexão, mas não oferecem suporte emocional ou espiritual. Já outros jovens relatam que o retorno à fé surgiu das perguntas profundas que a pandemia trouxe sobre propósito, morte, fragilidade e futuro.
Mas há uma nuance importante nos dados
O estudo da CTV News destaca um ponto que passou quase despercebido no debate público: o crescimento percebido entre “jovens homens cristãos” não significa que mais homens estão se tornando religiosos — significa que mais jovens mulheres estão deixando a religião.
Ou seja, a diferença estatística entre os sexos não é um “boom masculino”, mas um sinal de que o desafio para as igrejas também passa por compreender por que muitas mulheres jovens estão se afastando.
O que isso significa para a igreja?
A Geração Z:
- rejeita discursos religiosos superficiais;
- busca autenticidade, comunidade e propósito;
- valoriza participação ativa mais do que consumo de conteúdo.
Para essa geração, a igreja não é um evento — é uma experiência relacional.
E igrejas que compreenderam isso estão se adaptando: pequenos grupos nos bairros, presença digital consistente, linguagem acolhedora e foco em relações genuínas.
O caso de St. Paul’s e da replantação de St. George’s mostra que: onde há discipulado real e comunidade significativa, os jovens aparecem.
Para essa geração, a igreja não é um evento — é uma experiência relacional
Reflexão para o contexto brasileiro
Se a tendência é real — e os dados indicam que sim — ela aponta uma pergunta aos líderes cristãos:
Estamos oferecendo programas ou oferecendo comunidade?
Talvez a renovação espiritual não venha de grandes eventos, mas de igrejas que criam espaços de pertencimento, escuta e discipulado.
Ilustração: Pixabay







