SEIS ARGUMENTOS DO AMILENISMO CONTRA O PRÉ-MILENISMO
Após uma breve análise do pós-milenismo e das duas correntes pré-milenistas no texto do mês passado, passaremos agora à interpretação escatológica mais comum entre os cristãos presbiterianos e reformados: o amilenismo. Antes de avançarmos, porém, é importante lembrar que o termo “amilenismo” pode gerar equívocos sobre o que essa corrente realmente defende. O prefixo a- (que significa “não”) sugere a ideia de “não milênio” — algo que seus adeptos não afirmam. Uma designação mais precisa para essa linha interpretativa seria “milênio inaugurado”. Mas o que exatamente significa esse conceito? É o que exploraremos a seguir.
A ideia de um milênio espiritual já inaugurado é bem antiga, sendo defendida por muitos pais da Igreja. No início, o pré-milenismo e a concepção de milênio inaugurado coexistiam, até que as obras de Agostinho de Hipona (354–430 d.C.) — que inicialmente era pré-milenista, mas, após estudos mais aprofundados, revisou sua posição — levaram a Igreja da época a adotar o que hoje chamamos de amilenismo.
Alguns dos argumentos mais destacados que os amilenistas apresentam em oposição ao pré-milenismo são:
1. O Reino de Deus foi inaugurado no ministério terreno de Jesus, conforme atestam Marcos 1.15 (“O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo”) e Lucas 17.21 (“O Reino de Deus está no meio de vós”). Esse Reino — já presente (Mt 12.28; Cl 1.13) — manifesta-se, não como um governo físico em Jerusalém, mas como o domínio espiritual de Cristo sobre a Igreja e a história. O milênio de Apocalipse 20, portanto, não representa um período futuro literal de mil anos na terra, mas simboliza a era atual da Igreja, que culminará na volta de Cristo, quando o Reino, já em operação, será plenamente consumado nos novos céus e nova terra (Ap 21-22; 1Co 15.24-28).
2. O livro de Apocalipse não é para ser lido em ordem cronológica. O estilo literário apocalíptico da época em que foi escrito exige que a obra seja vista como uma mesma história contada em sete ciclos. Em cada ciclo, novos elementos são apresentados no livro sob nova perspectiva. Assim, o que está descrito no capítulo 20 (período do milênio) não vem cronologicamente depois dos acontecimentos do capítulo 19.
3. Não podemos ser literalistas diante de um livro com um gênero literário que se utiliza frequentemente de símbolos e figuras. Os números em todo o livro são simbólicos: “sete” representa “perfeição, completude”; “doze” remete ao “povo de Deus” (12 tribos, 12 apóstolos); “dez” representa “totalidade” e etc.
4. Apocalipse 20 não fala de reino acontecendo na terra, muito menos fala de templo reconstruído em Jerusalém. João não vê corpos reinando com Cristo na terra, mas “almas” que reviveram (Ap 20.4). João vê tronos no céu, não na terra em Jerusalém. Uma importante consideração sobre a expressão “reviveram” é que em grego ela não se traduz por “ressuscitar”, mas por “reviver” ou simplesmente “viver”. O ensino de João é que os mortos sem Cristo continuaram mortos física e espiritualmente; depois do milênio, eles ressuscitarão, mas para a morte eterna (Jo 5.25; 11.25-26; Rm 6.11; Ef 2.5-6). Portanto, a primeira ressurreição aqui é o “viver” com Cristo no céu (Cl 3.1-3). Os ímpios não vão “viver” com Cristo no céu até o dia da ressurreição final. Aquele que tem parte na primeira ressurreição (espiritual) vai para o céu, e não precisa temer a segunda morte (lago de fogo). Os que são de Cristo morrem uma vez, mas ressurgem duas vezes (espiritual e fisicamente). Já os rebeldes ressurgem uma vez, mas morrem duas vezes (física e espiritualmente).
5. A prisão de Satanás não deve ser imaginada como se ele estivesse, de fato, preso acorrentado num abismo. Esta linguagem é explicada pelo próprio texto que diz o propósito dessa prisão: “para que não mais enganasse as nações”. Assim, esta prisão é uma limitação à ação do inimigo que antes tinha certa autoridade para privar os povos gentios de ouvir a mensagem de salvação. Porém, Cristo venceu o inimigo na cruz (Lc 10.17-18; Jo 12.31-32), despojando principados e potestades (Cl 2.15), amarrou o valente (Mt 12.29) e assim conquistou toda a autoridade no céu e na terra. Sob a autoridade de Cristo, a igreja avança pregando o evangelho a todas as nações (Mt 28.19).
6. Apocalipse 20 não promete paz mundial, ausência de sofrimento ou coisa do tipo. Este consolo teremos somente quando forem implantados novos céus e nova terra, isto é, a Nova Jerusalém que descerá dos céus. Assim, os amilenistas insistem que o Reino já veio, mas ainda não plenamente, o que acontecerá somente na volta de Cristo. Assim como acontece com nossa salvação: já somos salvos, mas ainda não glorificados.

No próximo mês, continuaremos explorando o conceito do milênio já realizado, abordando um tema que tem gerado intenso debate no meio evangélico: a Grande Tribulação. Afinal, a Igreja passará por esse período ou será arrebatada antes? Como os amilenistas e os pré-milenistas entendem essa questão? É o que examinaremos no próximo texto, se o Senhor Deus assim nos permitir.







