No mês passado, apresentamos os conceitos de milênio literal e não literal. Agora, destacaremos de forma resumida três das principais perspectivas: o pós-milenismo, o pré-milenismo dispensacionalista e o pré-milenismo histórico. O amilenismo será abordado na próxima edição.
Pós-Milenismo
De modo geral, os pós-milenistas são preteristas, isto é, defendem que a tribulação (Mt 24) e a manifestação do homem da iniquidade já ocorreram no primeiro século, entre os judeus, com a destruição do templo de Jerusalém pelo general romano Tito, em 70 d.C.
Portanto, não devemos esperar por dias catastróficos às vésperas da volta de Cristo, mas a igreja avançará de tal modo que toda a terra será evangelizada e desfrutará de paz mundial.
Nesta visão, a queda de Jerusalém representa o dia em que o Senhor visitou Israel com julgamento contra a nação apóstata que rejeitou e matou o Messias (Mt 27.25; At 7.51-52; 2Ts 2.14-16; At 3.13-15; Mt 21. 43; 23.37).
O pós-milenismo defende que o reino messiânico foi inaugurado na terra durante o ministério terreno de Cristo, cumprindo as profecias do Antigo Testamento. Porém, a queda do templo de Jerusalém em 70 d.C. é a prova cabal de que um novo templo espiritual está sendo edificado ao longo dos séculos por pessoas de todas as nações, tendo Cristo como cabeça, reinando assentado à direita de Deus Pai.
O que se destaca nessa linha escatológica é a expectativa de êxito na tarefa da grande comissão. Para o pós-milenista, o Reino irá se expandir gradualmente com o poder de Cristo, mas sem sua presença física na terra.
E, por fim, a volta de Cristo será visível, seguida do juízo final.
Esta linha de interpretação sempre teve seus adeptos ao longo da história. Dentre os pais da igreja, destacamos o historiador Eusébio de Cesareia e Atanásio. Entre os teólogos posteriores que seguem a mesma linha destacamos Jonathan Edwards.

Pré-Milenismo Dispensacionalista
Este é, sem dúvidas, o esquema mais complexo dentre as linhas de interpretação. Por fazer severa separação entre Antigo e Novo Testamento, e por entender que Deus tem propósitos diferentes para Israel étnico e a igreja do Novo Testamento, os dispensacionalistas acreditam que a era atual é o momento em que Deus trata especificamente com a igreja do Novo Testamento.
Há muitas ramificações dentro do dispensacionalismo; por isso, vamos apresentar apenas a visão clássica e mais popular.
Para este entendimento, um dia, o Senhor voltará secretamente para arrebatar a igreja. Enquanto isso, surgirá na terra o anticristo, o qual enganará os judeus ao reconstruir o templo em Jerusalém como se ele fosse o próprio Messias. Porém, chegará o momento em que tudo virá à tona. O anticristo irá liderar a grande tribulação contra os judeus que, no final, se arrependerão. O mundo se voltará contra Jerusalém, mas o Senhor virá e vencerá o anticristo e o falso profeta lançando-os no lago de fogo.
Depois disso, Satanás será preso e Jesus implantará um reino a partir de Jerusalém que durará mil anos literais. Os salvos, com corpos glorificados, reinarão sobre os demais seres humanos que permaneceram vivos. Porém, ao fim dos mil anos, Satanás é solto novamente e consegue arrebanhar consigo grande multidão para a batalha contra o Reino de Cristo.
Jesus vencerá definitivamente a Satanás. Os mortos não convertidos ressuscitarão e haverá o juízo final onde os ímpios serão lançados no lago de fogo. Depois disso, o Senhor inaugurará uma nova era na qual, para os líderes dispensacionalistas do modelo clássico, os judeus habitarão em nova terra e a igreja em novo céu.
O dispensacionalismo é a linha de interpretação mais recente e carente de respaldo histórico entre os grandes intérpretes cristãos do passado.
Pré-Milenismo Histórico
Recebe o nome de pré-milenismo por defender que Jesus virá antes (pré) do período de mil anos literais, quando Cristo reinará com sua igreja na terra. Já o nome “histórico” serve tanto para distinguir esta visão do pré-milenismo dispensacionalista, como para indicar que esta interpretação foi adotada por notáveis pais da igreja como, por exemplo, Papias, Irineu de Lyon, Tertuliano e Justino Mártir.
A diferença que mais se destaca entre o pré-milenismo histórico e o dispensacionalismo é que, na visão histórica, acredita-se que a igreja não será arrebatada secretamente, mas ela passará pela grande tribulação visto que, na história bíblica, o povo de Deus sempre foi forjado e provado nas tribulações (1Ts 3.3; 2Ts 1.4; Rm 5.3; 2Tm 3.12).
A ideia de que a igreja não deve passar pela grande tribulação é recente. Seus defensores utilizam, principalmente, o texto de Apocalipse 3.10: “Você guardou a palavra da minha perseverança. Por isso, também eu o guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para pôr à prova os que habitam sobre a terra“.
Em resposta, os pré-milenistas históricos bem como os adeptos de outras visões lembram que Deus livra seu povo sem necessariamente tirá-lo do seu ambiente. Um exemplo claro disso é o pedido que Jesus dirige ao Pai em sua oração sacerdotal: “Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal” (Jo 17.15). Ou seja, os discípulos de Jesus permaneceriam neste mundo, com suas lutas e provações, porém, guardados do mal. Assim, não há motivo para a igreja esperar um arrebatamento secreto antes da grande tribulação.
Para o próximo mês
Com isso, concluímos nossa breve análise do pós-milenismo e das duas correntes pré-milenistas. Ainda resta uma perspectiva a ser apresentada: o amilenismo.
No próximo mês, vamos conhecer os fundamentos bíblicos dessa que se tornou a visão escatológica predominante na tradição reformada.







