Homens e mulheres são fundamentais para a igreja. Essa afirmação deveria ser óbvia, quase desnecessária, mas a própria história da igreja a torna indispensável. Por séculos, as mulheres foram tratadas como cidadãs de segunda classe dentro das igrejas, limitadas aos ministérios voltados para mulheres e crianças. E a Igreja de Jesus Cristo sofreu com isso.
Eu mesmo já acreditei que as mulheres deveriam ocupar apenas determinados papéis na igreja e defendia uma visão complementarista sobre o papel delas. Mas tudo mudou quando aceitei o desafio de ler o Novo Testamento completo, destacando cada vez que uma mulher falava, usava seus dons, compreendia quem era Jesus ou era mencionada pelo nome. Fiquei impressionado. As mulheres são aquelas que realmente “entendem”, enquanto os Doze não. Elas estão presentes na cruz quando Jesus morre. Elas sustentam financeiramente o ministério de Jesus e os pobres. Elas hospedam a igreja. Então, por que hesitamos em dar a elas liderança?
Authentein
Por que eu hesitava? Meu único obstáculo à ordenação feminina era a palavra grega authentein. Havia apenas uma passagem — 1 Timóteo 2.11-15 — que parecia destoar do restante do Novo Testamento, e tudo girava em torno dessa única palavra: authentein.
A palavra é traduzida como “exercer autoridade sobre”, mas essa palavra aparece apenas uma vez em todo o Novo Testamento. Paulo poderia ter usado diversos outros termos comuns para autoridade, incluindo o mais frequente: exousia. No entanto, ele escolhe um termo obscuro. Por quê?
Porque Paulo está tratando de um falso ensino específico, como indica 1 Timóteo 1.3. Não sabemos exatamente qual era essa heresia, mas, como muitas versões traduzem authentein como “usurpar autoridade”, fica evidente a ideia de uma disputa de poder — algo que se alinha ao contexto de contendas mencionadas nos versículos 1-10.
Timóteo ministrava em Éfeso, cidade que abrigava o templo de Ártemis, deusa da fertilidade, considerada por seus seguidores como a origem da humanidade.
Seria possível que esse conflito estivesse ligado ao culto de Ártemis? A maioria dos estudiosos acredita que sim.
Acredito que Paulo esteja corrigindo um falso ensino específico, utilizando a narrativa da criação de Adão e Eva para refutá-lo. Não se trata de um mandamento universal de subordinação.
Clareza X Obscuridade
Diante do uso de uma palavra obscura que gera tanto debate, eu diria que seu significado está longe de ser evidente. Como cristão que crê na Bíblia, aprendi que aquilo que é claro nas Escrituras deve iluminar as passagens mais difíceis de compreender. E há dois textos bíblicos que, para mim, são muito mais claros do que 1 Timóteo 2: Atos 16 e 1 Coríntios 15.
Primeiro, em Atos 16, Paulo e seus companheiros vão até o rio em Filipos, em vez de irem a uma sinagoga. Isso acontece porque, para haver uma sinagoga, era necessário um mínimo de dez homens judeus, e essa comunidade não tinha esse número.
Diante dessa realidade, Paulo estabelece uma igreja na casa de uma mulher, Lídia. Reflita sobre isso: Lídia recebe autoridade apostólica para iniciar essa igreja.
O segundo texto essencial vem dos evangelhos, conforme citado em 1 Coríntios 15. Paulo afirma que o evangelho é de suma importância: Cristo morreu pelos nossos pecados, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia.
Agora, pergunto: quem foram as únicas testemunhas da morte, do sepultamento e da ressurreição de Cristo? Em todos os evangelhos, foram mulheres.
No contexto da época, mulheres não podiam testemunhar em tribunais, pois não eram consideradas confiáveis. De fato, os primeiros críticos do cristianismo argumentavam contra a fé exatamente por estar fundamentada no testemunho de mulheres. No entanto, sem o testemunho autorizado e fiel dessas mulheres, não teríamos o evangelho como o conhecemos.
Apesar das proibições impostas pela igreja institucional à liderança feminina, um olhar atento sobre os grandes avivamentos e os períodos de crescimento exponencial da igreja ao longo da história revela a presença ativa de mulheres em papéis de liderança.
Basta observar exemplos como Lottie Moon, Mary Fletcher, Ana Bolena, Susanna Wesley e Helen Roseveare para ver a obra extraordinária que Deus realizou por meio de seus ministérios.
Se a ECO deseja formar igrejas vibrantes que façam discípulos de Jesus Cristo, é fundamental que celebremos e incentivemos o ministério das mulheres em todos os âmbitos da igreja.
Texto traduzido pelo Rev. Eugênio Anunciação, diretor executivo da Vida & Caminho, agência de comunicação e gentilmente cedido pelo Rev. Eric Laverentz para publicação (https://eco-pres.org/egalitarian-ministry-women-in-church-leadership/)







