Igrejas que auxiliam recomeços difíceis

No mês de abril, queremos destacar ações e testemunhos que nos ajudam a reconhecer o cuidado de Deus em recomeços desafiadores, seja por mudanças geográficas, luto ou enfermidades. Chamamos a atenção para o papel das igrejas que oferecem acolhimento e suporte, demonstrando na prática os princípios de fé e solidariedade. 

Entre as iniciativas inspiradoras, está o trabalho do Rev. Calvino Camargo, em Boa Vista, RR, que recebe e integra imigrantes venezuelanos, e o ministério do Rev. Kopeska, voltado para o apoio a enlutados. 

Além disso, apresentamos histórias pessoais de superação, como a de Nágila, em Maringá, PR, de Letícia, em Sorocaba, SP, e do Presb. Nelson Oliveira. Elas mostram a importância das igrejas no fortalecimento da fé na reconstrução da vida após momentos difíceis.

 

Acolhendo quem chega: o desafio da migração

Desde 2015, Boa Vista, capital de Roraima, tem sido um dos principais pontos de chegada de imigrantes venezuelanos em busca de melhores condições de vida no Brasil. A crise humanitária levou milhares a se estabelecerem na cidade, muitas vezes sem recursos básicos. 

Foi nesse cenário que a IPI local, liderada pelo Rev. Calvino Camargo, passou a desempenhar um papel fundamental no acolhimento a essas famílias.

“O que temos aqui não é um projeto formal de assistência, mas, sim, uma igreja que se sensibilizou diante do sofrimento dessas pessoas”, explica o pastor. 

Em 2017, quando o fluxo migratório se intensificou, famílias inteiras passaram a se aglomerar na praça pública próxima à igreja. Sensibilizados, os membros da comunidade abriram as portas para oferecer banhos e refeições. No primeiro domingo de ação, cerca de 150 pessoas foram atendidas.

Com o tempo, o governo federal organizou abrigos para os imigrantes, mas muitos continuaram frequentando os cultos. “O amor e a solidariedade sem esperar nada em troca fizeram toda a diferença. O vínculo que criamos com esses irmãos venezuelanos fortaleceu nossa própria caminhada de fé”, afirma Camargo.

O REV. CALVINO CAMARGO PASSOU A DESEMPENHAR UM PAPEL FUNDAMENTAL NO ACOLHIMENTO A FAMÍLIAS DE IMIGRANTES

Uma das histórias marcantes envolve um homem que chegou ao Brasil com parte da família, deixando esposa e filhos pequenos na Venezuela. Encontrou na igreja um refúgio espiritual, passando a frequentar cultos e reuniões de oração. Em um desses encontros, decidiu retornar ao país natal para reconstruir sua vida ao lado da família. “Ele me enviou uma foto com a esposa e os filhos em um culto. Disse que, mesmo na dor, Deus lhe deu coragem e esperança”, conta o pastor.

 

O luto e a reconstrução da vida

Se a migração impõe desafios, a perda de um ente querido representa outra grande provação. O Rev. Marcos Kopeska, que desenvolve um ministério de apoio a enlutados, conhece bem essa realidade. A iniciativa surgiu após a perda de sua filha, em 1997, experiência que o levou a estudar o luto e o aconselhamento cristão.

Ele é coautor do livro Superando a Dor do Luto, que busca oferecer suporte a quem enfrenta essa jornada. 

“Percebemos que há poucas publicações sobre o tema no meio cristão, e a igreja precisa estar preparada para oferecer esse apoio”, explica.

O Rev. Kopeska enfatiza a importância de treinar pastores e membros para lidar com a dor da perda. “Uma igreja pode criar espaços de acolhimento e aconselhamento, informar a comunidade sobre esse serviço e oferecer momentos de oração e reflexão para os enlutados. É fundamental estar atento para identificar casos em que o luto se torna patológico, levando à depressão ou ao isolamento”, alerta.

Para ele, a fé tem papel essencial na reconstrução da vida após a perda. “O luto é um processo necessário, mas a presença da comunidade e o consolo espiritual ajudam a pessoa a seguir em frente. O apoio da igreja pode transformar dor em esperança.”

 

Superação após a doença

Outra face dos recomeços difíceis está nas doenças graves e como a igreja pode ser uma comunidade terapêutica. O testemunho de Nágila Alves, da 3ª IPI de Maringá, PR, ilustra a luta contra o câncer em meio à pandemia. Diagnosticada com a doença em estágio avançado, enfrentou um tratamento agressivo, marcado por quimioterapias intensas e longos períodos de internação.

“Quando recebi a notícia, senti que meu mundo desabava. O medo e a insegurança tomaram conta de mim”, relata. No entanto, encontrou na fé uma fonte de força. “Aprendi que confiar em Deus não significa estar sempre bem, mas acreditar que Ele está presente mesmo nos momentos mais difíceis.”

Já em Sorocaba, SP, Letícia Ribeiro, da 8ª IPI, precisou reaprender tudo após um transplante de medula. O processo exigiu não apenas recuperação física, mas também emocional e espiritual. “Tive que reconstruir minha vida desde os pequenos gestos, e a fé foi essencial para isso”, compartilha. 

NÁGILA

Durante seu processo de recuperação, Letícia experimentou o impacto da fé e da solidariedade da 8ª IPI de Sorocaba e de outras igrejas. A comunidade se mobilizou para doar sangue, ultrapassando a quantidade esperada. Surpreendeu-se ao descobrir que membros da igreja oravam diariamente para que ela não sentisse dores. Muitas pessoas relataram que seu testemunho transformou suas próprias rotinas de oração.

LETÍCIA

 

Novos começos: história de resiliência e fé

O testemunho do Presb. Nelson Oliveira, hoje membro da 7ª IPI de Sorocaba, é um exemplo vivo dessa jornada de resiliência e fé.

Nascido em 9 de setembro de 1941 no antigo distrito de Jupi, em Pernambuco, Nelson Oliveira Barros Filho veio ao mundo em um contexto de dificuldades. Filho de Alaíde Barros Teixeira e Nelson Oliveira Barros, ele era o quarto de cinco irmãos. Aos quatro anos de idade, enfrentou a perda precoce do pai, um golpe devastador para a família. Sua mãe, uma mulher batalhadora, trabalhou incansavelmente para sustentar os filhos.

Diante das dificuldades financeiras, a família foi forçada a se separar. Enquanto alguns irmãos foram morar com parentes, Nelson e Nilton foram encaminhados ao Lar Bethel, em Sorocaba, graças ao apoio das igrejas locais.

 

O recomeço em Bethel e a construção de uma nova vida

No Lar Bethel, Nelson encontrou um novo lar e uma comunidade que o acolheu. Frequentando a 1ª IPI de Sorocaba, cresceu cercado pela fé e pelo apoio da igreja. 

Nelson enfrentou desafios profissionais e pessoais, incluindo a perda trágica do filho Alex em um acidente. Acolhido por uma igreja no Rio de Janeiro, reencontrou forças para seguir em frente.

Hoje, Nelson reconhece as muitas vezes que foi sustentado pelo amor de Deus. “Pai, pela tua graça, sou agradecido.”

PRESB. NELSON OLIVEIRA

 

A igreja como espaço de acolhimento

Essas histórias evidenciam o papel fundamental das IPIs como espaços de acolhimento e transformação. Diante dos desafios da vida, a fé continua sendo uma força propulsora para aqueles que precisam recomeçar.

Foto de Sheila Amorim

Sheila Amorim

Jornalista e diagramadora do O Estandarte

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